sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A preto e branco

Preciso de coragem, preciso de força, preciso de ânimo. Para continuar de pé, para não me enfiar na cama. Para não desistir de resistir. Estou cansada.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Vicky Cristina Barcelona

Eu tinha dito a mim mesma que tinha que poupar dinheiro para a minha viagem a Itália, e que ía começar a cortar no cinema, mas depois de uma semana chatíssima, como resistir a um encontro com um dos meus cineastas preferidos. Então, lá fui eu ao cinema ver o novo filme de Woody Allen, que ganhou o Globo de Ouro para melhor comédia. Mas claro que este filme é mais do que uma simples comédia. Sim, é muito bem disposto, sim, tem o humor inteligente e irónico de Woody Allen, mas tem também uma certa tristeza e melancolia porque se centra sobre a impossibilidade das relações. Allen filma uma série de relações falhadas, ou semi-falhadas. Cristina (Scarlett Johansson) é daquelas pessoas constantemente insatisfeitas com a vida e com o amor. Sempre em busca de algo mais. Encontra mas logo parte em busca de outra coisa. Vichy (Rebecca Hall) é o contrário, muito certinha, cheia de certezas na vida, com o seu futuro todo programado e a quem um pequeno encontro com um homem muito diferente de si faz perder todas as certezas. Elena (Penélope Cruz) e Antonio (Javier Bardem) amam-se mas não conseguem viver juntos. Antonio quer todas as mulheres ao mesmo tempo. E por aí fora.
É por isso que eu gosto de Woody Allen, porque acho que ele vê o mundo como eu vejo: uma enorme série de impossibilidades! Não é preciso dizer que adorei o filme, pois não?
Pelo meio dei umas boas gargalhadas e fiquei com imensa vontade de conhecer Barcelona. Mas saí do filme com uma pontinha de melancolia.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Mouros

Mouraria, Lisboa

Em algumas partes do país chamam os lisboetas de mouros. Eu que me orgulho de todas as minhas raízes, e são muitas, não me importo absolutamente nada que me chamem moura. É que nós somos mesmo um bocadinho mouros, só um bocadinho, mas somos. Os povos do Norte de Africa estiveram por cá durante um tempo considerável e como é natural deixaram a sua presença. Os Mouros deixaram a marca na cultura e principalmente na língua, existindo muitas palavras portuguesas de origem árabe. E não pensem os invictos habitantes da cidade do Porto que também não foram tocados pela presença da língua árabe. Ou aí em cima não se diz álcool, alfazema, algarismo ou álgebra? Estas são apenas algumas das palavras que chegaram ao português através do árabe. Mas existem muitas mais: alecrim, algema, algodão, azeite, azeitona, açafrão, açougue, garrafa, javali, laranja, laranjeira, limão, etc. E fiquem sabendo que o tão português azulejo também é uma palavra de origem árabe.
Pormenor dos azulejos da estação de metro Martim Moniz, porta de entrada para a Mouraria

A influência árabe foi mais sentida no sul do país, é certo, e isso nota-se bastante na toponímia. Muitas localidades do sul têm nomes de origem árabe como: Albufeira, Álcacer do Sal, Alcochete, Algarve, Alvito, Algés, Almada e Alverca (que vem da palavra árabe al-birka que significa pântano!)
Alguns bairros bem típicos de Lisboa têm nomes mouriscos como Alfama e Alcântara. E claro temos a Mouraria, bairro onde viviam os mouros que ficaram depois da reconquista cristã. Por isso, sim, somos um bocadinho mouros. Todos, não só os lisboetas, porque até a palavra mais católica de Portugal, Fátima, tem origem árabe.
Recentemente li um excerto de um livro brasileiro muito engraçado que se chama "O Português que nos Pariu", que conta de forma engraçada a história de Portugal vista por uma brasileira. Nesse excerto ela descreve a receita do português e nela explica, e muito bem, que nós somos feitos de uma pitadinha de um povo, mais uma pitadinha de outro e por aí fora. E hoje foi sobre a nossa pitadinha de mouro que me apeteceu falar.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Desafios

Colin Firth na pele de Mr. Darcy, Orgulho e Preconceito (BBC)

O início do ano é epoca de desafios e como me anda a apetecer ser desafiada vou responder a este da Sofia que até é muito engraçado. Então é assim, temos que fazer um post com as 8 coisas que sonhamos fazer em 2009. Ui, eu sonho tanto. Tanto, tanto, que nem sei por onde começar. Mas lá vai:

1- Ter suficiente trabalho como tradutora que me permitisse viver apenas desse trabalho.
2 - Viajar (e ir a muitos lugares onde nunca fui, nem que sejam aqui ao lado)
3 - Ter saúde e ver a minha família e amigos com saúde também
4 - Continuar o processo de cura que iniciei em 2008
5 - Ser mais corajosa

E agora vou começar a sonhar em grande:

6 - Comprar um apartamento em Lisboa, enorme, confortável, com aquecimento central, varandas/terraço e vista para o Tejo
7 - Comprar um carro com mudanças automáticas (gozem, podem gozar à vontade)
8 - Tentar não ser tão esquisita com os homens!!!!! (Parar de procurar o Mr. Right porque ele não existe, certo?)

Quem tiver vontade de fazer este joguinho, sinta-se desafiado.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Benjamin Button e um desafio

Este domingo fui ver o filme O Estranho Caso de Benjamin Button, um filme baseado no conto de F. Scott Fitzgerald com o mesmo nome. Não sabia bem o que esperar deste filme, já tinha visto a apresentação e estava um bocadinho de pé atrás com esta história mirabolante de um homem que nasce velho e faz todo o seu percurso de vida ao contrário. Mas uma amiga convenceu-me a vê-lo e ainda bem que o fez. O filme é muito belo. É no fundo um filme muito filosófico porque nos faz pensar sobre o tempo, sobre o envelhecimento, sobre as pessoas diferentes, sobre a vontade que temos de que às vezes o tempo volte para trás.
Tudo começa quando pedem a um famoso relojoeiro para criar um relógio para a estação de comboios que vai ser inaugurada. Esse relojoeiro, acaba de perder um filho na guerra, e no dia da inauguração apresenta um relógio que anda para trás. Todos ficam espantados mas ninguém o manda retirar pois ficam tocados com o discurso daquele relojoeiro que queria que o tempo voltasse para trás para ter o seu filho de volta. Nessa noite nasce um bebé que é diferente, porque nasce todo enrugado e com os ossos deformados por artroses. O pai horrorizado abandona-o, deixando-o na porta de um lar de idosos. A dona do lar de idosos que não podia ser mãe, toma conta daquele menino e ele vai crescendo vivendo a sua vida ao contrário... Tic tac, tic tac, tic tac...
Não conto mais. Vejam o filme. É muito belo. Tem actores muito bons. Cate Blanchet está fabulosa como sempre e Brad Pitt mostra que não é só um rosto bonito.

E agora vou responder a um desafio lançado pela amiga Ameixinha do blog Canela Moída, que é o seguinte: abrir um livro ao acaso na página 161, ir até à linha 5 e colocar essa frase no blog. Podem não acreditar mas tinha este livro na minha mesa de cabeceira há algum tempo e ainda não tinha começado a ler. Tem o sugestivo título de Gente Feliz com Lágrimas e é de João de Melo. Resolvi espreitar a página 161, linha 5 e deparo com esta frase bonita:
"Contudo a suprema justiça do tempo decidira abrir-lhe, a ele e não ao sogro, a porta proibida daquela casa."
E mais uma vez o tic tac do relógio, mais uma vez o tempo a querer dizer-me alguma coisa.
Passo o desafio à Cenourita, à Heloísa, ao Pipas, ao Inside me, à Pepita de Chocolate e à Sofia.
Meus queridos, fiquem sabendo que são obviamente livres de responderem ou não ao desafio.
Fiquem bem.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Encontro de blogueiras


Nunca pensei, quando comecei este blog, vir a conhecer pessoas através dele. Não era esse o meu objectivo, claro. Criei este blog, mais como um diário, no qual ia escrevendo aquilo que me apetecia, onde ia colocando os meus estados de espírito. Mas a comunicação que surge com um blog é muito interessante e foi uma surpresa para mim encontrar aqui pessoas tão simpáticas e que nunca vêm ao meu blog para me ofender ou para criticar como vejo noutros blogs. Nunca tive que apagar nenhum comentário por ser desagradável, ordinário, ou o que quer que fosse. Acho que tenho atraído pessoas boas aqui ao meu cantinho. Foi assim que comecei a achar natural conhecer algumas das pessoas com as quais se tornou um hábito comunicar através deste blog.
E tudo isto vem a propósito de quê, perguntam vocês. Vem a propósito do primeiro "encontro de blogueiras" no qual participei. Era para ser maior mas acabou por ser pequenino, porque duas pessoas não puderam comparecer. A simpática Cenourita, do blog A Tasca da Cenourita veio passear a Lisboa, no sábado, e lembrou-se de convidar algumas blogueiras aqui da zona para um cafézinho. Eu e a minha irmã aceitámos, claro. Como podíamos recusar um convite tão simpático? E ao vivo foi ainda mais giro comunicar. A Cenourita é tal e qual como eu a imaginava, simpática, divertida, simples, inteligente e generosa. Vejam lá que nos trouxe duas garrafas de licor feito por ela, uma de licor de melão e outra de licor de cereja, que nós provamos assim que chegamos a casa! Cenourita, são deliciosos, os dois! Adorei conhecer-te. Foi o máximo. Amei. Amei. Amei.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Lots of Laughs

Alguém chegou ao meu blog com a seguinte busca: "eu era apaixonada por ele mas estou melhorando". Looooooool

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Chocolate e malas

Início do primeiro episódio da segunda série de Private Practice. O ecrã está dividido em duas partes. Naomi está numa pastelaria a babar para os bolos. Adisson está numa loja de malas. Falam ao telemóvel uma com a outra:

Adisson - What are you doing?
Naomi - I'm supporting my eating disorder. What are you doing?
A - Using handbags to fill the sexual void.
N - I am avoiding Sam's kisses. I am avoiding Dell's kisses. I am avoiding being kissed. I'm going to donate my lips to chocolate.
A - The cop still hasn't called. Two weeks, no call. This lips are dry. Virgin lips, untoched by man. Haaahh! (Vê uma mala e dirige-se para ela). I'm having sex with a Bottega Veneta. (Acaricia a mala).

Irónico e divertido. Cliché? Talvez.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Clint is the best

Clint Eastwood continua bom, muito bom. Trouxe-nos mais um excelente filme, A Troca, com Angelina Jolie no papel principal. Desta vez filma uma história verídica que ocorreu em Los Angeles, no final dos anos 20. É daqueles casos em que a realidade quase parece irreal de tão terrível que é. O trágico desaparecimento de um filho, a indecente corrupção da polícia, a devolução de uma criança que não é a sua, a crueldade de um manicómio dos anos 20. Tudo trágico, mas tudo filmado como só Clint Eastwood sabe fazer. A tragédia filmada com requinte.
Ouvi por aí umas vozes invejosas a dizer que Angelina Jolie era demasiado bela para fazer o papel de uma mãe sofrida. Excuse me?! No comments.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Inverno

Hoje quando acordei fui à minha varanda como sempre vou e vi algo de estranho por estes lados. Os telhados que costumam ser bem vermelhinhos estavam meios esbranquiçados, olhei melhor, era gelo, estava tudo coberto de gelo, os telhados, a erva, os carros. Liguei o rádio para ouvir a temperatura e surpresa: 0º em Lisboa! Agora já subiu um bocadinho até aos 6º, mas eu começo a sentir o apelo da neve. Já que está frio, ao menos que neve. Eu quero neve, pleeeeease, um bocadinho de neve em Lisboa no fim-de-semana. Vá lá.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Gigantes - I

Martin Luther King

Rosa Parks
Eu não tenho ídolos, apenas admiro muitas pessoas por variadíssimas razões. Umas pelas suas personalidades, outras pelas suas acções, umas por terem mudado o mundo para melhor, outras por terem criado coisas maravilhosas. São tantas as pessoas que admiro que não caberiam num post só. Hoje fico-me por aqui e não me parece pouco.
Martin Luther King, dispensa apresentações, lutou toda a sua vida pela igualdade e morreu por causa da sua luta. Um dos textos mais inspiradores de sempre é de sua autoria: o famoso I have a Dream.
E depois temos Rosa Parks, que num dia em que estava especialmente cansada, decidiu que tinha direito a sentar-se no autocarro, como qualquer pessoa cansada deste mundo. Não cedeu o seu lugar da frente do autocarro a nenhum branco como a lei previa. Não pensou que a sua acção fizesse nascer o bloqueio aos transportes públicos por todo o sul dos Estados Unidos, nem o fez com esse objectivo, mas o que é certo é que essa pequena grande acção mudou o mundo e ele ficou bem melhor.
São apenas dois exemplos de pessoas que admiro. Mas mais virão.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Academia dos Livros

Expiação

Não consigo acreditar que só aos 33 anos descobri Ian McEwan. Mas assim que comecei, não consegui mais largar. Já li três, mas pretendo ler todos os livros deste autor. Como já aqui disse estou completamente apaixonada pela escrita de Ian McEwan. Faz-me vibrar. Leio e releio frases de tão lindas que são, de tão inteligentes, de tão bem escritas.

O último livro que li foi este magnífico Expiação, que recomendo vivamente. Já tinha visto o filme, que achei muito bom, mas o livro consegue ser mil vezes superior. E arrebatador. Acho que vou fazer apenas um pequeníssimo resumo da história para não estragar a surpresa de quem não leu: Uma criança imaginativa demais julga mal alguns acontecimentos que presencia e comete um erro que marcará para sempre três vidas, a dela, Briony Tallis, a da irmã mais velha, Cecília Tallis e a de Robbie Turner.
Fiquem com este bocadinho:
"Enquanto esteve preso, a única mulher por quem podia ser visitado era a mãe. Caso estivesse "inflamado", diziam eles. Cecilia escrevia todas as semanas. Apaixonado por ela, desejoso de manter a sanidade por ela, estava naturalmente apaixonado pelas palavras dela. Quando lhe escrevia fingia ser como era antigamente, mentia para se mostrar são. Por medo do psiquiatra, que funcionava como censor, nunca podiam ser sensuais, nem sequer emotivos. Estava numa prisão considerada moderna, esclarecida, apesar do seu ar vitoriano. Tinham diagnosticado, com precisão clínica, que ele era um indivíduo com uma hipersexualidade mórbida, que precisava tanto de ajuda como de correcção. Não devia ser estimulado. Algumas cartas - tanto dele como dela - eram confiscadas por uma tímida expressão de afecto. Por isso escreviam sobre literatura, usando as personagens como código. Em Cambridge tinham-se cruzado na rua. Tantos livros, tantos casais felizes ou trágicos sobre os quais nunca se tinham encontrado para discutir! Tristão e Isolda, o Conde Orsino e Olívia, Troilus e Criseyde, Mr Knightley e Emma, Vénus e Adónis. Turner e Tallis. Uma vez, em desespero, referiu-se a Prometeu, acorrentado a uma pedra, com o fígado a ser devorado diariamente por um abutre. Por vezes ela era a paciente Griselde. A referência a "um canto tranquilo na biblioteca" era um código para êxtase sexual. Também descreviam a sua rotina diária com um pormenor ao mesmo tempo monótono e amoroso. Ele relatava todos os aspectos da vida da prisão, mas nunca lhe dizia a que ponto era estúpida. Era óbvio. Nunca lhe dizia que tinha medo de morrer. Era demasiado claro. Ela nunca escrevia que o amava, embora o tivesse dito, se soubesse que essas palavras chegariam até ele. Mas ele sabia.
Disse-lhe que tinha cortado com a família. Não voltaria a falar com os pais nem com os irmãos. Ele seguiu de perto todos os passos dela para ter o diploma de enfermeira. Quando ela escreveu:" Hoje fui à biblioteca buscar o livro de anatomia de que te falei. Arranjei um canto sossegado e fingi que estava a ler", ele soube que Cecilia bebia das mesmas memórias que o consumiam todas as noites, por baixo dos finos cobertores da prisão."
Expiação, Ian McEwan

Nota: As imagens são cartazes de promoção do filme