Doris Lessing |
Tenho que confessar que não conhecia Doris Lessing antes de esta ter ganho o Prémio Nobel da Literatura em 2007. Nunca tinha ouvido falar da autora ou do seu trabalho, por isso, e porque há poucas mulheres laureadas com este prémio, fiquei com vontade de ler algo dela. Isso só aconteceu agora graças à minha irmã que requisitou na biblioteca de Alverca este livro para eu ler. A biblioteca do meu bairro (foto abaixo), apesar de ser uma das mais bonitas da cidade, não tem grande variedade e não tinha nenhum livro de Doris Lessing.
Biblioteca Municipal de São Lázaro |
A política do Apartheid começou oficialmente em 1948, mas a segregação racial sempre esteve muito presente neste território, mais ainda do que em qualquer outro território africano colonizado por europeus. (Será que houve algum pedacinho de África onde o colonizador europeu não tenha metido o bedelho? Acho que não.) Quando não eram os britânicos eram os Boers. A ambos os povos servia colocar o negro quase ao nível do animal, para se preservarem cultural e economicamente.
E é nesse contexto que entramos em contato com a comunidade britânica rural da África do Sul, no seio da qual decorre a acção. O livro é muito intenso a vários níveis. Primeiro porque mostra cruamente a "relação branco/negro" e depois porque a forma como a autora entra dentro dos personagens e nos conta os seus mais íntimos sentimentos, medos e loucuras é verdadeiramente poderosa.
Tenho que dizer que o livro começa por contar o fim da história, mas esse facto em vez de ser desencorajador da leitura, só nos dá mais vontade de descobrir como isso aconteceu. A autora tem uma grande mestria em manter a curiosidade do leitor que lê cada vez mais compulsivamente para descobrir como tudo se passou.
"(...) Falava como se não houvesse a mínima hipótese de recusa; ficara tão chocado que até esquecera os seus interesses pessoais. Nem mesmo estava a ser movido por pena de Dick. Estava a obedecer aos ditames da lei número um da África do Sul branca, que diz: "Não deixarás qualquer outro branco descer abaixo de certo ponto porque, se o fizeres, o preto poderá ver que não és melhor do que ele." Na sua voz soava a mais forte emoção de uma sociedade fortemente organizada, o que veio tirar a Dick qualquer hipótese de resistência. Porque, no final de contas, ele vivera naquele país toda a sua vida; estava minado pela vergonha; sabia o que era esperado da sua parte e sabia também que tinha falhado. (...)"
4 comentários:
Fizeste uma bela resenha desse livro e aguçou a curiosidade.Linda biblioteca essa que mostras. beijos,chica
Fiquei bastante motivada a essa leitura.Nunca li esta autora, mas tua resenha me despertou a curiosidade. Gosto muito de ler sobre os muitos povos do mundo.
Bjos,
Calu
Que boas lembranças que essa foto da biblioteca me traz! Adorava subir a escada de caracol e percorrer as prateleiras lá em cima. É uma biblioteca linda! A "minha" não tem nada a ver em termos de aspecto, é um edifício moderno, com o que isso tem de mau, mas realmente parece que está mais bem fornecida. :)
Outra coisa: eu sei que sou tua irmã, e tal, e pode até ficar mal dizer isto (lol) mas vou dizer na mesma: tu tens mesmo imenso jeito para fazer crítica literária (e cinematográfica também). Consegues transmitir lindamente o que o livro te transmitiu a ti. Já eu, por mais que aprecie um livro, não consigo transmitir isso, enrolo-me toda. :)
Acho que devias investir nessa área. :)
Olha, nunca li nada dessa autora, mas deve ser bem interessante! :)
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