sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

And so this is Christmas...


Num e-mail de Boas Festas que recebi vinha a seguinte frase, atribuída a Dalai Lama:

"Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar e, principalmente, viver."

Achei esta mensagem muito bonita e quis deixá-la aqui para todos vocês.

Ainda vou a tempo de vos desejar a todos um lindo, pacífico e feliz Natal!

As já tradicionais estrelinhas de Natal aqui da casa

Aventuras nas tradições americanas

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Saudades de onde nunca fui

Moçambique sempre foi um país que me fascinou, apesar de nunca lá ter ido. Desde adolescente que queria conhecer Moçambique, a sua gente, os seus costumes e a sua paisagem. Ainda não pude concretizar esse desejo, mas ainda não desisti. Sempre tive saudades de sítios onde nunca fui, Brasil e África no topo da lista. Podem achar estranho usar o termo saudade, mas é isso que sinto.
Ao ler Mia Couto, voltei agora a ter essa saudade de onde nunca fui, essa saudade de Moçambique. Estou a ler Jesusalém, maravilhoso livro de Mia Couto sobre o qual falarei mais tarde para a Academia dos Livros, e as paisagens e as gentes deste livro fazem-me viajar para esse país de terra vermelha.




Pesquisei sobre Moçambique na net e gostei tanto do que vi que fiquei ainda com mais vontade de conhecer melhor esta terra. As paisagens do interior são muito bonitas e as pessoas transmitem muita alegria e dignidade.

A menina da foto central carrega com uma dignidade cortante um irmãozinho nas costas e o vendedor de raízes tem um sorriso tão franco que desconcerta qualquer pessoa.

- Ó amigo, não tem aí nenhuma raíz para curar uma gripe que teima em não passar? É que com tosse, corrimento nasal e dores de garganta custa ainda mais a aguentar o Inverno. E uma raiz anti-nostalgia, a doença que me ataca sempre no Inverno? Essa aposto que tem...

Fotos de Moçambique retiradas daqui

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Homens ao trabalho, já!


Toda a gente diz que o mundo muda muito depressa, mas eu acho que em algumas áreas o mundo muda muito devagar. Por exemplo, nos papéis sociais masculino e feminino e tudo o que esses papéis acarretam de trabalho doméstico para as mulheres e de inércia doméstica para os homens.

Como é que é possível que toda a gente continue a achar normal que as mulheres, para além de trabalharem fora de casa ainda tenham que fazer todas as tarefas domésticas e cuidar dos filhos praticamente sozinhas. E depois ouço coisas como: "O meu marido até ajuda, de vez em quando levanta os pratos da mesa". Que grande ajuda, digo eu!
Porque é que os homens podem só ajudar um bocadinho e são uns excelentes maridos e as mulheres se não fizerem tudo o resto muito bem feito são desleixadas e péssimas donas de casa?

Os homens não deviam ajudar, mas sim partilhar as tarefas domésticas. O casamento não é partilha? Então que se partilhem também as tarefas. Não é justo a mulher fazer 90%, o homem ajudar 10% e ficar com fama de ser muito moderno porque ajuda em casa.

Porque custa tanto a um homem passar umas camisas a ferro, aspirar o chão, ou passar um pano nos móveis para limpar o pó? Porquê?

Porque custa tanto a um homem mudar a fralda a um bebé, dar banho e a papinha, ajudar a vestir e etc? Porquê?

Vai deixar de ser homem? Vai perder a sua masculinidade?


E porque é que tantas mulheres perpetuam estes papéis infinitamente, aceitando fazer todas estas tarefas e educando os filhos homens de forma diferente das filhas mulheres no que diz respeito a estes aspectos domésticos?

Eu ainda vejo muito aquela atitude de "aprender a ser uma mulherzinha" sinónimo de aprender a cozinhar, a tratar de todos os aspectos domésticos em relação às raparigas e nada disso em relação aos rapazes. Eles jogam no computador e elas ajudam a mãe na cozinha. Assim a nossa sociedade nunca vai mudar.

Sigam os bons exemplos das fotos :)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Fingers crossed

A Conferência Climática de Copenhaga, organizada pela ONU, está quase a começar. Do dia 7 ao dia 18 de Dezembro alguns líderes mundiais vão estar presentes para tentar um acordo na redução das emissões poluentes para a atmosfera. O facto de vários presidentes e primeiros-ministros estarem presentes já é um dado positivo, mostra que os países estão realmente comprometidos a chegar a alguma solução.

Já não há muitas esperanças que saia de Copenhaga um substituto do Protocolo de Quioto ou algo semelhante, mas pelo menos que saia um bom acordo nesse sentido. O Protocolo de Quioto expira em 2012 e o tic tac começa a ouvir-se cada vez mais alto.

Adorei a campanha da Greenpeace, em que os líderes mundiais aparecem envelhecidos e a pedir desculpa. A Greenpeace consegue sempre efeitos dramáticos nas suas campanhas.

“A nossa receita para que os líderes mundiais evitem os pedidos de desculpa [no futuro] é simples: cheguem a um acordo justo, ambicioso e com força legal para salvar o clima”, escreve a Greenpeace na sua página. Os cartazes foram divulgados em várias cidades, mas com especial incidência no aeroporto de Copenhaga.

Esperemos que os senhores e senhoras que governam o mundo pensem bem no que vão fazer a Copenhaga. Fingers crossed.

sábado, 28 de novembro de 2009

Pensar antes de Comprar

Ao ler um post da Beth, fiquei a reflectir sobre a nossa responsabilidade como consumidores.

A maioria das pessoas quando compra não pensa. Muitos porque infelizmente não podem dar-se ao luxo de pensar e esses eu desculpo já aqui. A maioria das pessoas não está em situação de pensar antes de comprar, porque ganha muito pouco ou porque não ganha nada e esses eu ponho já de parte desta discussão.

Mas uma parte considerável dos consumidores compra na mais pura ignorância e não pensa por pura preguiça.

Se pensarmos por exemplo nas lojas chinesas que proliferam em Lisboa e reflectirmos um pouco, vemos que para estas lojas colocarem aqui produtos a 1 € ou 0,50 € algo está mal. Porque se um comerciante aqui tem lucro a vender um produto a um preço irrisório, quando teve que importar esse produto da China e comprá-lo a uma fábrica chinesa que por sua vez "tem" que pagar aos funcionários chineses que fizeram o produto, é porque algo está muito mal nesta cadeia de produção. É porque o funcionário chinês recebeu muito pouco pelo seu trabalho. E é aí que reside o problema.

Podemos também pensar nas "grandes" multinacionais de informática, electrodomésticos ou brinquedos que têm fábricas na China, onde os trabalhadores são explorados de forma desumana, para garantir os lucros desmesurados das marcas.

Ao comprar qualquer coisa feita na China convém ver quais as condições que essa empresa dá aos seus trabalhadores, porque se não o fizermos continuamos a contribuir para a manutenção de uma situação vergonhosa.

Os trabalhadores portugueses lutam há décadas para terem os seus direitos consagrados na lei. Para trabalharem apenas 4o horas de trabalho por semana, no máximo 45. Para terem um salário mínimo que permita o sustento mensal de uma família e que nós sabemos que mesmo assim é preciso apertar muito o cinto para uma família sobreviver com dois salários mínimos quanto mais com um, no caso de um membro do casal estar desempregado.


Todos os dias fecham fábricas em Portugal, umas com a desculpa da crise, mas muitas porque as empresas deslocalizam as fábricas para países asiáticos onde a mão de obra é muito mais barata e trabalha muito mais horas.

Países cujas economias crescem à custa da exploração dos seus trabalhadores. Contam-se casos de pessoas que trabalham sem folgas durante meses e pessoas que dormem no trabalho para não "perder tempo" a ir dormir a casa.

Ir a uma loja de produtos chineses e comprar uma extensão eléctrica por um euro pode muito bem ser o mesmo que ajudar um chinês a ser explorado de forma desumana. Porque uma extensão eléctrica feita em Portugal custa pelo menos 3 €. É o preço normal, para que trabalhador fabril, dono da fábrica e comerciante ganhem a sua parte.

Não me passa pela cabeça apelar a um boicote às lojas chinesas. Os comerciantes chineses que emigram para Portugal só estão "a fazer pla vida" como se diz por aqui. E os portugueses que só podem comprar nas lojas deles, estão a fazer o mesmo. Também não apelo a nenhum boicote a tudo que seja made in China, apenas apelo à consciencialização dos consumidores. Quando comprem tentem saber o que está por trás dessa aquisição. Pensem antes de comprar.

É urgente que o consumidor esteja consciente do que está a fazer quando compra alguma coisa, o que quer que seja.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ponto de Luz

Sara Tavares, uma das vozes mais bonitas de Portugal, numa música linda. Há muito tempo que Sara já não é a menina do Chuva de Estrelas. Sara amadureceu e tornou-se uma cantora com personalidade e estilo bem definidos. Já nos habituou à qualidade e àquela misturinha boa de Portugal com Cabo-Verde.

Neste momento não me sai da cabeça e tranquiliza-me bastante.

sábado, 21 de novembro de 2009

O Sonho Comanda a Vida

A minha vida é sonho e sempre será. Nunca, mas nunca vou deixar de sonhar. Quando eu já não sonhar, já não serei eu. Já lá vão 35 e continuo a sonhar...

Pedra Filosofal, António Gedeão

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.



Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pausa

Estou e estarei numa pausa das blogagens. Estou com um trabalho de tradução em mãos que me tira todo o tempo extra e não me permite blogar. Também ando um bocadinho sem vontade. Visitarei os vossos cantinhos de vez em quando para matar saudades, mas acho que por agora preciso de desligar um pouco.

Peak District National Park - Inglaterra

Fiquem bem e façam o favor de ser felizes...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mais uma experiência culinária

Desta vez aventurei-me na culinária brasileira, com os famosos pães de queijo. Claro que para um brasileiro deve ser a coisa mais simples do mundo e não deve ser nenhuma aventura, mas para mim, com pouca experiência na cozinha e com nenhuma experiência com esta farinha de mandioca a que chamam polvilho azedo, foi uma bela aventura.

Segui a receita que vinha na embalagem de polvilho, que pecava por ser muito simples e básica. A meio da confecção lá tive que fazer uma chamada de emergência para a minha irmã que já fez esta receitas algumas vezes e lá me acalmou. Estava um bocadinho assustada com aquela consistência de borracha que a massa estava a ganhar.


Ingredientes:
500 gr de polvilho azedo
2 chávenas de leite
1 chávena de óleo
4 ovos
2 chávenas de queijo ralado
sal a gosto

O queijo que deve ser utilizado é o Queijo Minas, da Região de Minas Gerais, mas como não consegui encontrar esse queijo por aqui, usei o queijo Manchego, um queijo espanhol, que alguns blogs dizem ser o mais parecido com o queijo minas que podemos encontar por aqui.

Modo de fazer:

1 - Ferver o leite com o óleo e o sal, e escaldar o polvilho

2 -Deixar arrefecer

3 - Acrescentar os outros ingredientes e amassar bem

4 - Fazer bolinhas e cozer em forno quente

Como podem ver a receita que vem na embalagem é muito básica e no meio senti-me um pouco perdida, uma vez que nunca tinha trabalhado com esta farinha. Mas acabei por me divertir imenso a amassar aquela massa com consistência tão diferente do que eu estou habituada.

A receita não falava em tempo de cozedura. Como podem ver pelas fotos uns pãezinhos ficaram mais caídinhos e outros mais levantadinhos. Gostei mais daqueles mais amachucados e caídinhos, estavam uma delícia. Os outros também estavam bons, mas fiquei com a impressão que cozeram demais.

Cada vez estou com mais vontade de experimentar coisas novas na cozinha e esta experiência até nem correu mal. Não ficaram uns verdadeiros pães de queijo mineiros, mas os pãezinhos luso-brasileiros com um toque espanhol que resultaram da experiência também não desiludiram.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Hoje é dia de magusto


Hoje é dia de S. Martinho, logo é dia de magusto, uma das tradições que eu mais gosto de cumprir.

São Martinho é patrono dos alfaiates, dos cavaleiros, dos produtores de vinho e dos pedintes. É por esta última faceta que o santo é mais celebrado, pois sempre lembramos a famosa história em que o santo partilhou a sua capa com um mendigo numa noite de temporal. Como também é patrono dos produtores de vinho não podíamos deixar de celebrar este dia com o néctar da uva!


A tradição em todo o país é beber o vinho ou a jeropiga a acompanhar as castanhas assadas, conforme referem os provérbios populares:

No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o teu vinho

Pelo S. Martinho, castanhas assadas, pão e vinho

Como sempre, o que mais me atrai nestas festividades é a fusão do sagrado e do profano. A ligação da cultura agrícola à cultura religiosa. Na altura do ano em que se enchem as pipas e em que as castanhas estão prontas a comer, celebra-se o Santo e celebra-se o vinho novo e a fartura de castanhas, fruto que foi em tempos a base da nossa alimentação em boa parte do nosso território.

Em minha casa sempre houve magusto. A minha mãe, como boa beirã que é, nunca deixou morrer essa tradição. Já tive a oportunidade também de passar um S. Martinho na aldeia da minha mãe, onde estas tradições são vividas de forma comunitária, o que as torna muito mais ricas e divertidas.

Aqui em Lisboa, também se fazem magustos nas escolas, mas tirando isso, devem ser poucos os magustos comunitários. Cada família faz o seu magusto privativo na sua própria casa. Aqui não vai faltar um copinho de jeropiga e umas boas castanhas assadas, ou não fosse hoje dia de S. Martinho.

E não faltou mesmo! Enchi a barriga de castanhas assadas e de jeropiga!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Babel de mil línguas

Nas últimas duas décadas Portugal passou de um país que enviava emigrantes para todos os cantos do mundo para um país que recebe imigrantes de todos os cantos do mundo. Não é que os portugueses tenham perdido o desejo de evasão e não continuem a sair do país, mas agora de maneira diferente, já não se trata de emigração em massa, como ocorria anteriormente.

Lisboa, principalmente a zona central do Martim Moniz e arredores, é hoje uma cidade cheia de gente de outras terras, África, Brasil, China, Índia, Paquistão, Ucrânia e outros países do leste europeu, que povoam a cidade com as suas diferentes formas de falar português ou com as suas línguas estranhas para a maioria de nós. Ouvimos no metro, na rua, em todo o lado estas novas línguas e começamos também a vê-las escritas por aí.
Como eu tenho um fascínio por línguas tenho andado atenta a esse fenómeno e captei alguns exemplos da Lisboa de hoje, Babel de mil línguas.

Russo (ou algo parecido)

Paquistão, Índia??

...?

Chinês

Já agora, se alguem tiver uma sugestão acerca das línguas que não consigo identificar, podem dar à vontade, porque estou cheia de curiosidade. Espero não ter postado nada indecente, hihihi... é que não percebo absolutamente nada do que está escrito nas fotos!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Tempo e o Vento

Fiquei maravilhada com a escrita de Erico Verissimo, neste fabuloso O Tempo e o Vento. Este épico está dividido em três partes, O Continente, O Retrato e O Arquipélago. Apenas li o primeiro, O Continente, mas fiquei apaixonada por esta narrativa intensa, que conta a história da família Terra Cambará ao mesmo tempo que conta a história do Rio Grande do Sul, o estado mais a sul do Brasil.


Eu adoro um livro com árvore genealógica, fico logo motivada para a leitura. Há qualquer coisa nas sagas familiares que me prendem a atenção e me fascinam. E este livro tem uma grande árvore genealógica, sem a qual o leitor estaria completamente perdido, uma vez que a narrativa não segue a ordem cronológica dos acontecimentos, sendo formada por uma série de analepses.


Ruína jesuíta de S. Miguel das Missões

Como já disse, o livro aborda temas da história do Rio Grande do Sul, como os primeiros missionários jesuítas, a expulsão (e consequente sofrimento e muitas mortes) de um grande número de índios dessas missões para outros territórios devido a um acordo entre Portugal e Espanha (que punham e dispunham de terras e gentes), as ondas de imigração açoriana, alemã e italiana, e as guerras civis, mais conhecidas como Revolução Farroupilha e Revolução Federalista.

Quadro de José Wasth Rodrigues que retrata a Revolução Farroupilha

Em vez de colocar um excerto do livro, resolvi colocar um excerto do Prefácio de Maria Lúcia Lepecki, com o qual me identifiquei. Para quem não sabe Mª Lúcia Lepecki é uma professora universitária brasileira, de Minas Gerais, que vive e trabalha em Portugal há muitos anos, tendo inclusivamente sido professora da minha irmã na faculdade.

"Uma pessoa duvida da própria sensatez. Como prefaciar trilogia cujas 2348 páginas cobrem 200 anos (1745-1945), da história de uma família, os Terra Cambará, enquadrada em extensíssima galeria de personagens, todas elas pulsantes de vida? Uma pessoa duvida mais, se se lembrar de que nos três volumes de O Tempo e o Vento viu também um quadro da História do Rio Grande do Sul e, ricochete previsível, da História do Brasil durante dois séculos. Por cima disso, uma pessoa sabe perfeitamente que O Tempo e o Vento encontra escrita de extraordinária beleza, sem ponta de paralelo na restante obra de Verissimo e com muitíssimo poucas parecenças nas literaturas portuguesa e brasileira. Essa escrita, cujos meandros levei anos a discernir, garante um fôlego narrativo que tem, ao arrepio do que mandaria a lógica, três puras naturezas: a épica, a romanesca e a mítica. Caso para dizer: não há quem resista. Por isso acredito piamente que, tal como eu, o leitor amará apaixonadamente este livro e, por causa dele, carregará no coração o Rio Grande do Sul. Mesmo que, também tal como eu, nunca lá tenha posto os pés…"

Leiam e apaixonem-se.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Stª Engrácia e um desafio

Já todos devem ter ouvido, ou até usado, a expressão "obras de Stª Engrácia", utilizada normalmente quando uma obra demora mais do que o tempo previsto e às vezes parece não ter fim. Eu até já tinha usado muitas vezes mas não sabia que estava associada à Igreja de Sta Engrácia, que funciona actualmente como o Panteão Nacional. As obras de construção da igreja começaram em 1640 e devido a vários revezes, só terminaram no início do século XX!!! Daí a expressão estar tão enraízada na nossa língua. Pelo menos aqui em Lisboa.

Apesar de ter vivido toda a vida em Lisboa, nunca tinha visitado o Panteão Nacional. Acontece muito as pessoas saírem do país para visitarem os monumentos estrangeiros e não conhecer os do seu próprio país, não é?

Mas, desta vez, como estava lá uma exposição sobre a Amália, foi mais um incentivo para visitar este monumento imponente.




Pormenor da Exposição sobre Amália Rodrigues

Gostei muito, tanto do edifício do Panteão como da exposição da Amália, que achei bastante interessante, retratanto todas as fases da sua carreira. Não resisti a tirar uma foto aos sapatinhos Versace :)


Mudando de assunto, a amiga Beth do blog Mãe Gaia passou-me um selinho (ou meme, como chamam no Brasil ) e um desafio que consiste em definir oito características da pessoa que o recebe e passar para mais oito pessoas. Eu não vou passar para ninguém em especial, mas se quiserem responder estão à vontade.

A minha primeira ideia era optar só por características positivas e deixar as negativas no segredo dos deuses, mas não consegui reunir oito características positivas, hihi e tive que apelar para algumas menos boas… Assim, sou:

Trabalhadora – Sincera – Amiga – Frontal – Sonhadora - Stressada – Teimosa – Complexa

E por hoje é tudo. A minha vida está uma confusão, muito trabalho, muita preocupação, mas tudo vai passsar, tudo vai melhorar e espero nos próximos tempos ter mais tempo para postar e visitar os vossos blogs.

sábado, 24 de outubro de 2009

Olhar para cima

Às vezes vale a pena olhar para cima. Tirar os olhos do chão e surpreendermo-nos com a beleza inesperada.





terça-feira, 20 de outubro de 2009

Luxo

A maior parte das pessoas associa o luxo às grandes marcas, aos hotéis de luxo e às sanitas forradas a ouro dos multimilionários do Médio Oriente. Eu, mesmo que tivesse muito dinheiro, acho que não compraria sapatos de 1000€ ou malas de 1500€. Não faria questão de pernoitar em suites com decorações exageradas e barrocas. E nunca, mas nunca forraria qualquer coisa a ouro na minha casa de banho.

Acho que as variações sobre o conceito de luxo podem ter contornos interessantes. O meu conceito de luxo é um pouco diferente do acima retratado. Para mim um luxo pode ser tanta coisa. Pode ser um bom perfume. E como eu adoro um bom perfume! O que ele pode fazer por nós! Este, devo dizer-vos, faz-me sentir uma verdadeira imperatriz.


Um luxo pode também ser uma iguaria da alta doçaria. E aqui podia falar muito. Mas para não fazer disto um post gigante dou o exemplo do bom chocolate, nas suas formas mais variadas. Como me fazem felizes umas maravilhosas trufas de chocolate!


Pode também ser um hotelzinho de charme, com uma decoração simples mas de bom gosto, com aquele toque único, que o faz especial.
E pode mesmo ser um sumo de romã bebido ao final da tarde na varanda a conversar com pessoas de quem gostamos.



O luxo para mim, é aquele objecto que nos dá prazer, aquela iguaria que nos enche a alma, aquele local sem ostentação, mas de extremo bom gosto e simplicidade, aquela viagem que nos abre os horizontes, e principalmente aqueles pequenos prazeres únicos e autênticos que quase sempre não custam dinheiro quase nenhum.

É claro que eu compreendo o apelo de um bem único, exclusivo, feito pelos melhores profissionais, com os melhores materiais, etc. Mas nesse ponto confesso que sou muito mais entusiasta das exclusividades culinárias do que das materiais. Pode parecer disparatado, pois uma mala ou um relógio de luxo podem durar quase uma vida, enquanto o luxo que comemos desaparece num instante, mas acho que é mesmo por isso que eu o valorizo. O luxo feito para consumir, degustar, dar prazer e não apenas para mostrar bom gosto ou status.


O sumo de romã é dos sumos mais trabalhosos de fazer: primeiro a trabalheira de descascar as romãs, depois triturá-las e depois a trabalheira de passar tudo por um grande passador para tirar todos os pedacinhos de carocinhos brancos que restam. Mas no fim obtemos o luxo: um sumo único, de grande qualidade (natureza pura), cheio de qualidades anti-oxidantes e doce como o mel.

E pronto, agora podem chamar-me maluca por achar que beber um sumo de romã acabadinho de fazer é um luxo. Estejam à vontade. E se quiserem, digam-me o que para vocês é um luxo?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Encontro Portugal - Brasil

Mais um encontro blogueiro, mais uma amiga virtual que se transforma em amiga real. Mais uma pessoa que ganha forma na minha frente, com rosto, corpo, voz própria. Essa passagem do virtual para o real é maravilhosa e surpreendente. Até agora sempre me surpreendeu pela positiva. Tenho tido a sorte de ter atraído pessoas maravilhosas ao meu blog. Não tenho uma palavra má a dizer de ninguém, nunca na vida tive que apagar um comentário. Só me aparece gente boa!

Ontem foi um desses dias especiais, conheci a querida Beth, do blog Mãe Gaia, amiga brasileira com quem troco umas ideias já há algum tempo. Nesta sua viagem à Europa, Beth foi a Londres e agora veio a Lisboa, e querida como só ela, convidou-me para um lanche maravilhoso, em que trocámos ideias, histórias e risadas (palavra linda do português do Brasil) por quase duas horas. A conversa fluiu como se fossemos velhas amigas. A Beth passa uma energia boa, positiva. Encontrámos muitos pontos em comum e agora quando for ao seu blog comentarei com a memória de um animado fim de tarde numa esplanada da Avenida de Roma. Até à próxima, Beth.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Faróis

Mais um para a colecção.

Farol de Stª Marta

Dias felizes e luminosos, dias de sol e calor, dias para andar na rua, para viver outside.

Quem é que disse que era Outono?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A estupidez tem limites

Ou será que não tem? Vejam bem este caso. Uma actriz brasileira, que é sempre muito bem recebida em Portugal, retrata o nosso país desta maneira num programa da televisão brasileira.

Esta pessoa, para além de ser absurdamente ridícula, fútil, burra e xenófoba é também extremamente mal-educada, uma vez que faz questão de humilhar o país e o povo que tão bem a recebe.

O desprezo de alguns brasileiros por Portugal e pelos portugueses é antigo, mas nunca pensei que continuasse a ser proclamado e difundido em programas de televisão supostamente sofisticados e inteligentes.


sábado, 10 de outubro de 2009

Lisboa

Lisboa num dia de Outono com cheiro a Verão. Com sol e calor de 30º. Com aquela luz de Lisboa que a faz tão bonita.


Vale a pena viver aqui, por isso faço o apelo a todos os lisboetas que não se esqueçam de votar amanhã nas eleições autárquicas que são tão importantes como as legislativas.
A abstenção é uma vergonha, uma anulação do cidadão, que abdica do seu direito de voto tão arduamente conquistado. Sim, amanhã a meteorologia prevê outro maravilhoso dia de 30º, mas não deixem que a vontade de ir para a praia vos impeça de ir votar. As urnas estão abertas das 8h às 19h, por isso não há desculpa para não tirar 15 minutos do seu dia para ir votar. Lisboa agradece. Todas as autarquias do país agradecem. Por favor, votem.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Seremos mesmo pestes?

Eu não gosto de fazer generalizações. Muito menos generalizações contra o meu género. Não gosto de dizer mal das mulheres como um todo. E também não costumo entrar na conversa de que as mulheres são todas muito mázinhas umas para as outras, umas verdadeiras pestes. E isto apesar de no meu trabalho eu verificar isso mesmo há mais de cinco anos.

Neste momento trabalhamos no mesmo espaço diariamente 13 mulheres, e infelizmente, é um inferno. Zangas constantes, diz que disse constante, todas dizem mal umas das outras, e eu no meio a tentar não dizer mal de ninguém e a ouvir todas.

Quando tínhamos dois homens a trabalhar connosco, eles conseguiam desanuviar o ambiente, faziam piadas, acalmavam os ânimos e nunca ouvi da parte deles qualquer tipo de intriga contra os restantes colegas. Será que aquilo que eu sempre neguei é mesmo verdade? Será que as mulheres são mesmo umas pestes umas para as outras? Será que em ambientes profissionais só masculinos não existe este tipo de confusões?

Apesar das evidências, como já disse, eu não gosto de generalizar. Talvez estas mulheres específicas sejam intriguistas e conflituosas por natureza. Talvez eu tenha tido o azar de ir parar ao pior galinheiro do país! Logo eu que sou uma pessoa de paz e que adoro tranquilidade no trabalho sou obrigada a viver no meio destas tricas e confusões que tanto me chateiam.

Segundo as filosofias new age , nós atraímos as pessoas às nossas vidas consoante a nossa conduta, o nosso estado de espírito, a nossa forma de encarar a vida, etc. Mas que raio, algo está mal com a minha aura, devo estar com um problema de comunicação com o universo! Quando é que eu começo a atrair pessoas peace and love como eu?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Recordar a Diva

no 10º aniversário da sua morte.


Até custa a crer que Amália já morreu há dez anos. Como o tempo voa. Mas é bom ver que Portugal não a esqueceu nem vai esquecer tão cedo. Os projectos para celebrar esta efeméride multiplicam-se, sendo o mais interessante, na minha opinião, o projecto Amália Hoje. Magnífico o tema A Gaivota cantado pela poderosa voz de Sónia Tavares (fica para outro post).

Mas aqui fica a original, a única e inigualável Amália. A voz inesquecível duma mulher que sofreu toda a sua vida de uma gravíssima depressão e que se vivesse hoje andaria a tomar anti-depressivos e andaria tão alegre que nunca teria escrito estas palavras amarguradas que com tanto sentimento cantou.

Existe uma tendência muito grande para conotar Amália ao Estado Novo e ao Portugal triste e cinzento do tempo da outra senhora, mas a tristeza de Amália era só dela, vinha-lhe da alma. Não era o espelho de um país, era o espelho do seu coração.




E vocês gostam de Amália? Contem-me coisas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Mudar de vida

Muda de vida, se não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não podes viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar


Quando era pequena sonhava com aventuras maravilhosas na minha vida de adulta. Nessa época eu desejava que a minha vida fosse um enorme filme do Indiana Jones. Cresci, e tornei-me uma adulta demasiado séria, a pessoa menos aventureira ao cimo da terra. Mudanças? Não. Deixa estar tudo como está. Pelo menos isto eu já conheço. Arriscar? Não. Deixem-me estar quieta aqui no meu canto.

Fiquei com muito medo de mudanças. Qualquer mudança era para mim um bicho de sete cabeças. Sentia a necessidade de mudar, mas não conseguia concretizar a mudança. Inventava mil desculpas, muitas delas válidas, para deixar tudo na mesma.

Desde há pouco mais de um ano estou a tentar mudar. Estou a tentar aceitar as mudanças, embarcar nelas sem medo do que elas me possam trazer. Arriscar, ainda é para mim muito difícil. Tenho medo do imprevisível. Mas agora já sou capaz de mudar, de fazer, de procurar aquilo que quero, apesar de os caminhos nem sempre serem fáceis.

Às vezes temos mesmo de mudar de vida.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A luz que nos guia


Adoro faróis. Adoro o seu significado. Aquela luzinha que brilha no escuro e guia quem anda perdido no mar. Quem nunca se sentiu um pouco perdido, sem saber qual o melhor caminho? Acho que todas as pessoas numa fase ou noutra da vida têm essa sensação.

O farol é para mim essa metáfora da luz que nos indica o caminho. Às vezes, o farol é uma pessoa. Outras vezes é uma situação. Mas quase sempre acabamos por descobrir que o farol está cá dentro, quando nós mesmos escolhemos aquele que sabemos ser o melhor caminho. O nosso caminho.

A foto mostra dois faróis, um pequenino, na doca de Oeiras, e o grande Bugio, ao longe, no meio da foz do rio Tejo.

Estou numa fase de escolha de caminhos. Espero que todos os faróis me ajudem a iluminar esses novos caminhos. Espero que as luzes não se fundam e que os faroleiros não adormeçam. Se é que ainda existem faroleiros!

sábado, 19 de setembro de 2009

Fui para a cozinha para me animar

Definitivamente, chegou o Outono. Dizemos adeus às sandálias, às blusinhas de alças, à praia e aos constantes passeios ao ar livre: até para o ano. Recolhemo-nos, viramo-nos mais para dentro, para a casa e também para a cozinha. Sou daquelas pessoas que segue muito o ritmo das estações e recolho-me no Outono. Mas este ano estou a exagerar. Nestes últimos dias praticamente não tenho saído, pareço uma reclusa. É de casa para o trabalho e do trabalho para casa.

Também ando sem paciência para a campanha eleitoral. Já quase nem ligo a televisão, não vá dar de caras com políticos, raios os partam a todos. Já não posso ver as caras deles, de nenhum deles. Não me interpretem mal, no dia 27 eu vou exercer o meu direito de voto, como sempre faço. Mas falta-me pachorra para tanta politiquice. Tenho-me então virado para a leitura. Continuo com Joanne Harris, agora A Praia Roubada. No intervalo folheio livros de receitas. E é assim o meu Outono, como podem ver, muito animado.


Chegamos então ao que interessa, com este tempinho mais fresco vem logo a vontade de fazer bolachinhas ou biscoitinhos em casa. Principalmente quando nós andamos macambúzias e armadas em freiras em clausura e a terapia de fazer (e comer) doces parece ser a única salvação. Segui, com algumas adaptações, a receita do livro Le Cordon Bleu – Receitas Caseiras de Biscoitos.

Biscoitos de Gengibre

Ingredientes:

70 g manteiga sem sal
160 g de açúcar
1 ovo
Duas colheres de sopa de melaço
240 g de farinha sem fermento
1 colher de chá de gengibre moído
Pitada de canela moída
Açúcar granulado fino para revestir


Preparação:

Forre dois tabuleiros de ir ao forno com papel vegetal.

Com uma colher de pau ou uma batedeira, forme um creme com a manteiga e o açúcar, até obter um preparado leve e fofo.

Adicione o ovo aos poucos, batendo entre cada adição, e junte depois o melaço, batendo bem.

Peneire a farinha com o gengibre moído e a canela, misturando na base de manteiga. Forme uma bola de massa com as mãos, embrulhe-a em película aderente e coloque no frigorífico durante uma hora e meia ou até que fique firme.

Divida a massa em quatro partes e, utilizando as palmas das mãos, forme uma corda com cada um dos pedaços. Corte cada uma destas cordas em dez pedaços e forme pequenas bolas. Espalhe o açúcar num prato. Passe cada bola de massa pelo açúcar, coloque-as nos tabuleiros já preparados deixando bastante espaço de umas para as outras e achate-as ligeiramente. Coloque o resto da massa no frigorífico até que volte a precisar dela. Leve os biscoitos ao forno durante 10-15 minutos, ou até que fiquem dourados.

Gostei muito do resultado final. Nunca tinha usado o melaço e acho que ele influencia bastante o sabor final. Acho até que os biscoitos deveriam mudar de nome e passarem a ser biscoitos de melaço e gengibre.

E é assim que uns biscoitos alegram um pouco um dia muito cinzento.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Hoje o árbitro sou eu


A Liliana passou-me o desafio de mostrar 10 cartões vermelhos. E eu fiquei logo com vontade de levar o apito à boca e a mão ao bolso. E levantar o cartão vermelho bem alto.



1 - Cartão vermelho à falta de civismo em geral. Vivemos em sociedade, se não nos respeitarmos uns aos outros, a vida torna-se caótica. Muita gente mostra terrível falta de civismo no seu dia-a-dia para com os outros habitantes. São pessoas que não conhecemos, mas que temos de respeitar, certo?

2 - Cartão vermelho aos preços exorbitantes das casas em Lisboa, provocadas pela especulação imobiliária, e que afastam a classe média (baixa e mediana) da cidade, obrigando-a a comprar casa nos arredores.

3 - Cartão vermelho às leis que permitem que muito património arquitectónico desta cidade (país) permaneça num enorme estado de degradação. A minha eterna luta.

4 - Cartão vermelho às ligações pouco claras entre os políticos e as grandes empresas/ os grandes negócios. Quando é que a política vai deixar de ser um tacho?

5 - Cartão vermelho aos pais que superprotegem, mimam e não impõe limites aos filhos.

6 - Cartão vermelho à endémica falta de médicos neste país. Porque insistem em não abrir mais cursos de medicina? Nós precisamos de médicos, logo devíamos formá-los. É para isso que servem as universidades, não para formar mais e mais desempregados.

7 - Cartão vermelho à sobrevalorização da adolescência. Não sei se já repararam que agora a adolescência é o ponto alto da vida do ser humano? A partir daí é sempre a cair. Isto é muito perigoso porque a adolescência é possivelmente a fase mais estúpida por que o ser humano passa no seu processo de vida. Aquela fase em que achamos que sabemos tudo mas na verdade não sabemos nada.

8 - Cartão vermelho aos Velhos do Restelo que continuam a existir em grande número.

9 - Cartão vermelho às pessoas que não têm sentido de humor. Bolas, não podem emigrar?

10 - E, por fim, um grande cartão vermelho aos homens que só sabem falar de futebol!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Cinco Quartos da Laranja

Há muito tempo que não participo na nossa Academia dos Livros. Eu tenho lido bastante, mas a preguiça de postar sobre os livros tem sido muita. Desta vez fiz um esforço para combater essa danada da preguiça e aqui está o post.
Sugiro a leitura do livro Cinco Quartos da Laranja de Joanne Harris. Desta autora ainda só tinha lido Chocolate, que tinha gostado bastante e apesar de ela já ter publicado vários livros ainda não tinha voltado a ela.
Comprei o livro em inglês, o que para mim tem várias vantagens, é mais barato e permite o treino da língua inglesa, mas é óbvio que está editado em português.


É um livro muito belo, muito diferente de Chocolate, no sentido em que é mais duro, mais forte, mais amargo, mas parecido na abordagem de um universo mágico: a França campestre, com os seus aromas, os seus sabores, as suas paisagens e mitos. O rio Loire, os seus peixes, as suas correntes fortes, tornam-se personagens do livro, assim como Les Laveuses e Angers, as povoações onde a acção decorre. As pessoas têm nomes de frutos: Framboise, Reine-Claude, Cassis, Pistache, Prune… e os apelos ao paladar são tantos que ficamos com vontade de ir para a cozinha preparar geleias, crepes e toda a espécie de delícias.

Mas, no livro, estas delícias são temperadas com o azedume de uma relação gelada entre mãe e filhos. Framboise fala assim de sua mãe:
“Nunca vi a minha mãe chorar. Raramente sorria, e apenas na cozinha com a sua paleta de sabores na ponta dos dedos, falando para si própria – pensava eu – sempre no mesmo murmúrio monocórdico, dizendo os nomes das ervas e das especiarias – “canela, tomilho, hortelã-pimenta, coentros, manjericão, açafrão” – e fazendo comentários monótonos. “Vê o lume. Tem que estar na temperatura certa. Se estiver muito baixo a panqueca fica ensopada. Se estiver muito alto, a manteiga queima-se e a panqueca torra.” Compreendi mais tarde que ela estava a tentar educar-me. Eu escutava porque via nos nossos seminários da cozinha a única forma de ter um pouco da sua aprovação, e porque qualquer boa guerra precisa da sua ocasional amnistia. Receitas campestres da sua Bretanha eram as suas favoritas; as panquecas de milho sarraceno que comíamos com tudo, far breton, kouign amann e galette bretonne que vendíamos em Angers, juntamente com o nosso queijo de cabra, salsichas e fruta.”

Como só tenho o livro original, fiz uma tradução livre deste pedacinho, para vos dar uma pequena ideia desta obra. Espero que ela vos aguce o apetite para ler o livro e para cozinhar um crêpe framboise...


E como estou em maré de delícias gastronómicas francesas, não resisto a pôr aqui umas fotos duma sobremesa maravilhosa que a minha mãe fez e que eu adoro. Poires au vin rouge, ou como diz o meu pai, Pêras Bêbadas!


Eu acho que a minha mãe é uma grande cozinheira. Para mim a melhor comida do mundo é sem dúvida a da minha mãe. Mas os doces não são o seu forte. Mas se há sobremesa que ela faz bem é esta. É verdadeiramente divinal. E tem tudo a ver com o livro.