sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A luz que nos guia


Adoro faróis. Adoro o seu significado. Aquela luzinha que brilha no escuro e guia quem anda perdido no mar. Quem nunca se sentiu um pouco perdido, sem saber qual o melhor caminho? Acho que todas as pessoas numa fase ou noutra da vida têm essa sensação.

O farol é para mim essa metáfora da luz que nos indica o caminho. Às vezes, o farol é uma pessoa. Outras vezes é uma situação. Mas quase sempre acabamos por descobrir que o farol está cá dentro, quando nós mesmos escolhemos aquele que sabemos ser o melhor caminho. O nosso caminho.

A foto mostra dois faróis, um pequenino, na doca de Oeiras, e o grande Bugio, ao longe, no meio da foz do rio Tejo.

Estou numa fase de escolha de caminhos. Espero que todos os faróis me ajudem a iluminar esses novos caminhos. Espero que as luzes não se fundam e que os faroleiros não adormeçam. Se é que ainda existem faroleiros!

sábado, 19 de setembro de 2009

Fui para a cozinha para me animar

Definitivamente, chegou o Outono. Dizemos adeus às sandálias, às blusinhas de alças, à praia e aos constantes passeios ao ar livre: até para o ano. Recolhemo-nos, viramo-nos mais para dentro, para a casa e também para a cozinha. Sou daquelas pessoas que segue muito o ritmo das estações e recolho-me no Outono. Mas este ano estou a exagerar. Nestes últimos dias praticamente não tenho saído, pareço uma reclusa. É de casa para o trabalho e do trabalho para casa.

Também ando sem paciência para a campanha eleitoral. Já quase nem ligo a televisão, não vá dar de caras com políticos, raios os partam a todos. Já não posso ver as caras deles, de nenhum deles. Não me interpretem mal, no dia 27 eu vou exercer o meu direito de voto, como sempre faço. Mas falta-me pachorra para tanta politiquice. Tenho-me então virado para a leitura. Continuo com Joanne Harris, agora A Praia Roubada. No intervalo folheio livros de receitas. E é assim o meu Outono, como podem ver, muito animado.


Chegamos então ao que interessa, com este tempinho mais fresco vem logo a vontade de fazer bolachinhas ou biscoitinhos em casa. Principalmente quando nós andamos macambúzias e armadas em freiras em clausura e a terapia de fazer (e comer) doces parece ser a única salvação. Segui, com algumas adaptações, a receita do livro Le Cordon Bleu – Receitas Caseiras de Biscoitos.

Biscoitos de Gengibre

Ingredientes:

70 g manteiga sem sal
160 g de açúcar
1 ovo
Duas colheres de sopa de melaço
240 g de farinha sem fermento
1 colher de chá de gengibre moído
Pitada de canela moída
Açúcar granulado fino para revestir


Preparação:

Forre dois tabuleiros de ir ao forno com papel vegetal.

Com uma colher de pau ou uma batedeira, forme um creme com a manteiga e o açúcar, até obter um preparado leve e fofo.

Adicione o ovo aos poucos, batendo entre cada adição, e junte depois o melaço, batendo bem.

Peneire a farinha com o gengibre moído e a canela, misturando na base de manteiga. Forme uma bola de massa com as mãos, embrulhe-a em película aderente e coloque no frigorífico durante uma hora e meia ou até que fique firme.

Divida a massa em quatro partes e, utilizando as palmas das mãos, forme uma corda com cada um dos pedaços. Corte cada uma destas cordas em dez pedaços e forme pequenas bolas. Espalhe o açúcar num prato. Passe cada bola de massa pelo açúcar, coloque-as nos tabuleiros já preparados deixando bastante espaço de umas para as outras e achate-as ligeiramente. Coloque o resto da massa no frigorífico até que volte a precisar dela. Leve os biscoitos ao forno durante 10-15 minutos, ou até que fiquem dourados.

Gostei muito do resultado final. Nunca tinha usado o melaço e acho que ele influencia bastante o sabor final. Acho até que os biscoitos deveriam mudar de nome e passarem a ser biscoitos de melaço e gengibre.

E é assim que uns biscoitos alegram um pouco um dia muito cinzento.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Hoje o árbitro sou eu


A Liliana passou-me o desafio de mostrar 10 cartões vermelhos. E eu fiquei logo com vontade de levar o apito à boca e a mão ao bolso. E levantar o cartão vermelho bem alto.



1 - Cartão vermelho à falta de civismo em geral. Vivemos em sociedade, se não nos respeitarmos uns aos outros, a vida torna-se caótica. Muita gente mostra terrível falta de civismo no seu dia-a-dia para com os outros habitantes. São pessoas que não conhecemos, mas que temos de respeitar, certo?

2 - Cartão vermelho aos preços exorbitantes das casas em Lisboa, provocadas pela especulação imobiliária, e que afastam a classe média (baixa e mediana) da cidade, obrigando-a a comprar casa nos arredores.

3 - Cartão vermelho às leis que permitem que muito património arquitectónico desta cidade (país) permaneça num enorme estado de degradação. A minha eterna luta.

4 - Cartão vermelho às ligações pouco claras entre os políticos e as grandes empresas/ os grandes negócios. Quando é que a política vai deixar de ser um tacho?

5 - Cartão vermelho aos pais que superprotegem, mimam e não impõe limites aos filhos.

6 - Cartão vermelho à endémica falta de médicos neste país. Porque insistem em não abrir mais cursos de medicina? Nós precisamos de médicos, logo devíamos formá-los. É para isso que servem as universidades, não para formar mais e mais desempregados.

7 - Cartão vermelho à sobrevalorização da adolescência. Não sei se já repararam que agora a adolescência é o ponto alto da vida do ser humano? A partir daí é sempre a cair. Isto é muito perigoso porque a adolescência é possivelmente a fase mais estúpida por que o ser humano passa no seu processo de vida. Aquela fase em que achamos que sabemos tudo mas na verdade não sabemos nada.

8 - Cartão vermelho aos Velhos do Restelo que continuam a existir em grande número.

9 - Cartão vermelho às pessoas que não têm sentido de humor. Bolas, não podem emigrar?

10 - E, por fim, um grande cartão vermelho aos homens que só sabem falar de futebol!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Cinco Quartos da Laranja

Há muito tempo que não participo na nossa Academia dos Livros. Eu tenho lido bastante, mas a preguiça de postar sobre os livros tem sido muita. Desta vez fiz um esforço para combater essa danada da preguiça e aqui está o post.
Sugiro a leitura do livro Cinco Quartos da Laranja de Joanne Harris. Desta autora ainda só tinha lido Chocolate, que tinha gostado bastante e apesar de ela já ter publicado vários livros ainda não tinha voltado a ela.
Comprei o livro em inglês, o que para mim tem várias vantagens, é mais barato e permite o treino da língua inglesa, mas é óbvio que está editado em português.


É um livro muito belo, muito diferente de Chocolate, no sentido em que é mais duro, mais forte, mais amargo, mas parecido na abordagem de um universo mágico: a França campestre, com os seus aromas, os seus sabores, as suas paisagens e mitos. O rio Loire, os seus peixes, as suas correntes fortes, tornam-se personagens do livro, assim como Les Laveuses e Angers, as povoações onde a acção decorre. As pessoas têm nomes de frutos: Framboise, Reine-Claude, Cassis, Pistache, Prune… e os apelos ao paladar são tantos que ficamos com vontade de ir para a cozinha preparar geleias, crepes e toda a espécie de delícias.

Mas, no livro, estas delícias são temperadas com o azedume de uma relação gelada entre mãe e filhos. Framboise fala assim de sua mãe:
“Nunca vi a minha mãe chorar. Raramente sorria, e apenas na cozinha com a sua paleta de sabores na ponta dos dedos, falando para si própria – pensava eu – sempre no mesmo murmúrio monocórdico, dizendo os nomes das ervas e das especiarias – “canela, tomilho, hortelã-pimenta, coentros, manjericão, açafrão” – e fazendo comentários monótonos. “Vê o lume. Tem que estar na temperatura certa. Se estiver muito baixo a panqueca fica ensopada. Se estiver muito alto, a manteiga queima-se e a panqueca torra.” Compreendi mais tarde que ela estava a tentar educar-me. Eu escutava porque via nos nossos seminários da cozinha a única forma de ter um pouco da sua aprovação, e porque qualquer boa guerra precisa da sua ocasional amnistia. Receitas campestres da sua Bretanha eram as suas favoritas; as panquecas de milho sarraceno que comíamos com tudo, far breton, kouign amann e galette bretonne que vendíamos em Angers, juntamente com o nosso queijo de cabra, salsichas e fruta.”

Como só tenho o livro original, fiz uma tradução livre deste pedacinho, para vos dar uma pequena ideia desta obra. Espero que ela vos aguce o apetite para ler o livro e para cozinhar um crêpe framboise...


E como estou em maré de delícias gastronómicas francesas, não resisto a pôr aqui umas fotos duma sobremesa maravilhosa que a minha mãe fez e que eu adoro. Poires au vin rouge, ou como diz o meu pai, Pêras Bêbadas!


Eu acho que a minha mãe é uma grande cozinheira. Para mim a melhor comida do mundo é sem dúvida a da minha mãe. Mas os doces não são o seu forte. Mas se há sobremesa que ela faz bem é esta. É verdadeiramente divinal. E tem tudo a ver com o livro.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O descanso da guerreira

Em momentos de carência queria que a minha gata fosse um cão. Daqueles que não largam os donos, que os lambem todos, que são verdadeiros amigos. Daqueles a que podemos dar um abraço apertado. Mas depois volto a mim e vejo que a minha gata é mesmo como deve ser, uma verdadeira felina, prima direita dos leopardos e dos leões.
Não liga a ninguém. A mim só me liga quando precisa de mim, quando quer comer, ou quando quer o meu colo numa noite fria de inverno. Defende o seu território como uma verdadeira fera, que o digam os gatinhos da minha irmã, que são recebidos com rosnadelas e pantufadas. Mas mesmo assim eu gosto muito desta peste. É a minha Safira, que apesar de tudo, me recebe em casa sempre com uma marradinha nas pernas. Aqui podemos vê-la a descansar, parece que não faz mal a uma mosca. As aparências enganam...

A propósito, há uma analogia engraçada entre cães/gatos e homens/mulheres aqui.

Estou de férias pela última vez este ano. Ando um pouco afastada dos blogs. Preciso muito de me afastar e de descansar. A partir do dia 7 voltarei a visitar os vossos cantinhos com mais frequência.