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sábado, 11 de agosto de 2012

Ora pois?!!

Não consigo perceber porque é que nas novelas brasileiras insistem em por os personagens portugueses a dizer "Ora pois" no início e no fim de cada frase. Nos meus 37 anos de vida neste país nunca ouvi uma alminha que fosse a dizer "Ora pois". Onde é que eles foram buscar isto?


O actor Paulo Rocha, na novela Fina Estampa

O "pois" está sempre na nossa boca, isso é verdade, mas "ora pois"? Que fenómeno.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O Acordo da Discórdia II

Não costumo concordar com João Pereira Coutinho, sobretudo por razões ideológicas, mas este texto que aqui transcrevo está maravilhoso e diz tudo o que eu penso sobre o Acordo Ortográfico. O texto foi publicado no jornal brasileiro Folha de S. Paulo.

"Começa a ser penoso para mim ler a imprensa portuguesa. Não falo da qualidade dos textos. Falo da ortografia deles. Que português é esse?



Quem tomou de assalto a língua portuguesa (de Portugal) e a transformou numa versão abastardada da língua portuguesa (do Brasil)?


A sensação que tenho é que estive em coma profundo durante meses, ou anos. E, quando acordei, habitava já um planeta novo, onde as regras ortográficas que aprendi na escola foram destroçadas por vândalos extra-terrestres que decidiram unilateralmente como devem escrever os portugueses.


Eis o Acordo Ortográfico, plenamente em vigor. Não aderi a ele: nesta Folha, entendo que a ortografia deve obedecer aos critérios do Brasil.


Sou um convidado da casa e nenhum convidado começa a dar ordens aos seus anfitriões sobre o lugar das pratas e a moldura dos quadros.


Questão de educação.


Em Portugal é outra história. E não deixa de ser hilariante a quantidade de articulistas que, no final dos seus textos, fazem uma declaração de princípios: “Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com a antiga ortografia”.


A esquizofrenia é total, e os jornais são hoje mantas de retalhos. Há notícias, entrevistas ou reportagens escritas de acordo com as novas regras. As crônicas e os textos de opinião, na sua maioria, seguem as regras antigas. E depois existem zonas cinzentas, onde já ninguém sabe como escrever e mistura tudo: a nova ortografia com a velha e até, em certos casos, uma ortografia imaginária.


A intenção dos pais do Acordo Ortográfico era unificar a língua.


Resultado: é o desacordo total com todo mundo a disparar para todos os lados. Como foi isso possível?


Foi possível por uma mistura de arrogância e analfabetismo. O Acordo Ortográfico começa como um típico produto da mentalidade racionalista, que sempre acreditou no poder de um decreto para alterar uma experiência histórica particular.


Acontece que a língua não se muda por decreto; ela é a decorrência de uma evolução cultural que confere aos seus falantes uma identidade própria e, mais importante, reconhecível para terceiros.


Respeito a grafia brasileira e a forma como o Brasil apagou as consoantes mudas de certas palavras (“ação”, “ótimo” etc.). E respeito porque gosto de as ler assim: quando encontro essas palavras, sinto o prazer cosmopolita de saber que a língua portuguesa navegou pelo Atlântico até chegar ao outro lado do mundo, onde vestiu bermuda e se apaixonou pela garota de Ipanema.


Não respeito quem me obriga a apagar essas consoantes porque acredita que a ortografia deve ser uma mera transcrição fonética. Isso não é apenas teoricamente discutível; é, sobretudo, uma aberração prática.


Tal como escrevi várias vezes, citando o poeta português Vasco Graça Moura, que tem estudado atentamente o problema, as consoantes mudas, para os portugueses, são uma pegada etimológica importante. Mas elas transportam também informação fonética, abrindo as vogais que as antecedem. O “c” de “acção” e o “p” de “óptimo” sinalizam uma correta pronúncia.


A unidade da língua não se faz por imposição de acordos ortográficos; faz-se, como muito bem perceberam os hispânicos e os anglo-saxônicos, pela partilha da sua diversidade. E a melhor forma de partilhar uma língua passa pela sua literatura.


Não conheço nenhum brasileiro alfabetizado que sinta “desconforto” ao ler Fernando Pessoa na ortografia portuguesa. E também não conheço nenhum português alfabetizado que sinta “desconforto” ao ler Nelson Rodrigues na ortografia brasileira.


Infelizmente, conheço vários brasileiros e vários portugueses alfabetizados que sentem “desconforto” por não poderem comprar, em São Paulo ou em Lisboa, as edições correntes da literatura dos dois países a preços civilizados.


Aliás, se dúvidas houvesse sobre a falta de inteligência estratégica que persiste dos dois lados do Atlântico, onde não existe um mercado livreiro comum, bastaria citar o encerramento anunciado da livraria Camões, no Rio, que durante anos vendeu livros portugueses a leitores brasileiros.


De que servem acordos ortográficos delirantes e autoritários quando a língua naufraga sempre no meio do oceano?"

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sabemos que as pessoas não têm nada a ver connosco quando...

... tratam o seu filho de 4 anos por você.

NOTA: Isto só faz sentido em Portugal.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A língua mais bonita do mundo?

Bem... pelo menos na minha opinião emocional e muito tendenciosa. Em toda a sua enorme variedade, o Português é para mim a língua mais bonita do mundo.

Não resisti e roubei este vídeo à Raquel. O vídeo aborda a diversidade semântica e sintáctica existente entre as várias regiões do Brasil. É divertidíssimo e, na minha opinião, super interessante porque aborda um dos temas que acho mais fascinante no estudo das línguas: a diversidade linguística dentro de uma própria língua.

Mas este tema também pode ser "perigoso", porque a diversidade linguística pode sempre levar-nos a um tema tabu e difícil de abordar neste universo da língua portuguesa: o grande afastamento entre as duas principais variedades do português, a europeia e a brasileira. Este afastamento sente-se mais a nível da oralidade do que a nível da escrita. A escrever entendemo-nos bem, o problema é quando falamos, não é?

Em qualquer língua do mundo existe diversidade linguística, tanto a nível regional como social. É um fenómeno completamente normal e saudável em qualquer língua viva. O problema é quando surgem demasiadas diferenças ao ponto de dificultar a compreensão. E é o que muitas vezes acontece com estas duas variantes do português.

Às vezes apavora-me a ideia de o português do Brasil se tornar a "língua brasileira", separando-se e cortando definitivamente o cordão umbilical, outras vezes vejo esse caminho quase como inevitável num futuro longínquo. No meio de tantas diferenças de semântica e de sintaxe (ordenação dos elementos na frase e suas funções), e sabendo que as línguas são vivas e imprevisíveis, será possível travar esse afastamento?


Eu adoro o português de Portugal. Eu adoro o português de Lisboa, e do Alentejo e do Porto. O do Minho e o do Algarve, o dos Açores e o da Madeira. Mas também adoro o português do Brasil, o do Rio, o de São Paulo, o mineiro e todos os outros. E apesar das diferenças sinto-o como meu.

Bem, chega de teses. Fiquem com o vídeo que é muito bom e se quiserem deixem uma opinião sobre o tema :)




Adorei tudo, mas o "crocodilinho de parede" é genial!

segunda-feira, 2 de março de 2009

O Acordo da discórdia ou talvez não

Bandeira de Angola
O Acordo Ortográfico tem sido alvo de muita polémica. Para ficar mais esclarecida e poder tomar um partido nesta acesa discussão, andei a fazer umas pesquisas. Em primeiro lugar descobri que esta vontade de unificar a ortografia da nossa língua já começou em 1911, altura do primeiro acordo. Foi nessa época que passámos a escrever farmácia com f e não com ph, por exemplo.
Bandeira do Brasil
Este novo acordo nasceu ainda na década de 90, mas andou em banho-maria até 2004, data em que numa reunião da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), ficou decidido que bastaria que três países da comunidade o ratificassem para o acordo entrar em vigor. O Brasil foi o primeiro país a ratificar o acordo em 2004, seguiram-se Cabo Verde em 2005 e São Tomé e Príncipe em 2006. Isto significa que nestes países o acordo já está em vigor.
Bandeira de Cabo Verde
Em Portugal, o acordo sempre foi contestado por um grande número de intelectuais, sendo Vasco Graça Moura, o seu maior crítico. O Governo, sem falar muito no assunto, tratou de ratificar o acordo em 2008, mas o mesmo ainda espera aprovação do Parlamento e do Presidente da República. Caso seja aprovado, entrará imediatamente em vigor, apesar de ser permitida uma fase de adaptação de 6 anos, durante os quais serão permitidas as duas grafias.
Bandeira da Guiné Bissau
E agora, o mais importante: O que vai mudar com o novo acordo?

1º - O alfabeto português passará a incluir definitivamente as letras k, w e y. Isto não é grande mudança, a minha sobrinha de 7 anos já aprendeu o alfabeto assim.

2º - A supressão das consoantes mudas. Esta é talvez a questão que tem levantado mais polémica aqui em Portugal. Alguns linguistas defendem que vamos privar a nossa língua de mais um traço da sua origem latina. Eu pessoalmente, sei que me vai custar um pouco, mas apenas por questão de hábito. Aprendi a escrever assim, sempre escrevi assim, não vai ser fácil mudar de um dia para o outro. Mas se observarmos a questão logicamente, a língua é na sua essência oral. A escrita é apenas uma representação da oralidade. E se, como o nome indica, as consoantes são mudas, não estão lá a fazer nada. Nós pronunciamos ótimo e não óptimo, só para dar um exemplo.
Vamos a alguns casos concretos (isto não vai ser fácil!)

- c antes de c - transaccionar passa a transacionar; leccionar passa a lecionar.
Manter-se-ão as palavras em que o primeiro c é pronunciado, como: friccionar, perfeccionismo, porque neste caso não são consoantes mudas.
- c antes de ç - acção passa a ação; reacção passa a reação.
Irão manter-se iguais as palavras em que o primeiro c é pronunciado, como: fricção, sucção.
- c antes de t - acto passa a ato; actriz passa a atriz, projecto passa a projeto.
Irão manter-se iguais as palavras em que o c é pronunciado, como: bactéria, octogonal. Em Portugal manteremos facto, porque pronunciamos o c e porque fato para nós é outra coisa (terno no Brasil).
- p antes de c - percepcionar passa a percecionar.
Mantém-se opção, opcional, núpcias, etc, porque o p é pronunciado.
- p antes de ç - adopção passa a adoção.
Mantém-se corrupção, opção, etc, porque o p é pronunciado.
- p antes de t - Egipto passa a Egito; baptismo passa a batismo.
Mantém-se inapto, eucalipto, porque o p é pronunciado.

3º - Agora a questão dos acentos, que para mim é a mais complicada.

São suprimidos alguns acentos gráficos em palavras graves:
- crêem, vêem, lêem passam a creem, veem, leem :/
- pêra, pêlo, pólo passam a pera, pelo, polo :(

As palavras acentuadas no ditongo oi e ei perdem o acento:
- ficam assim estoico, asteroide, boleia, plateia, ideia.

Supressão do trema:
- aguentar, frequente, linguiça e agora devem ser os brasileiros que fazem :/

Supressão do acento circunflexo em palavras como:
- abençoo, voo, enjoo :(
Bandeira de Moçambique
Quando existem palavras que são pronunciadas de maneira diferente nos vários países, continua a existir a dupla grafia, como nos seguintes casos:

Portugal Brasil
característica caraterística
olfacto olfato
facto fato
súbdito súdito
súbtil sútil
bónus bônus
puré purê
metro metrô
cómico cômico

Bandeira de Portugal
Eu acho que, no final, não muda assim tanta coisa e que pode ser vantajoso unificar a grafia da nossa língua para que ela seja mais forte internacionalmente e para manter os laços culturais e históricos que nos unem.

Bandeira de S. Tomé
Agora aceito opiniões a favor e contra.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Tupi em mim


Desde sempre que tenho um fascínio enorme pelos povos indígenas do continente americano. Da mais complexa civilização Maia até às tribos mais simples das quais pouco sabemos. Quando era adolescente devorava os livros de história universal que havia lá por casa e lia fascinada sobre as civilizações Maia, Inca e Azteca. Para além desta civilizações complexas, também sempre amei as simples tribos que viviam em sintonia com a natureza. Sempre senti muito a tragédia destes povos, das pessoas que viviam na sua terra e que foram obrigadas a mudar por causa de povos estranhos, que chegaram ali e se sentiram no direito de tomar aquela terra para si e mudar tudo. Os índios foram perseguidos, foram escravizados, foram mortos. Os que resistiram foram forçados a mudar a sua cultura, a sua religião, o seu modo de vida. Como estes povos não tinham registos escritos, muito se perdeu da sua cultura. Tem sido sempre com dificuldade que os índios têm sobrevivido depois disso.



Muitas vezes as pessoas me ouviram dizer: "Eu queria ser índia, eu queria viver na Amazónia, no meio dos bichos, não saber que existia o resto do mundo e não querer mais nada a não ser viver." Sim, porque nós hoje queremos demais, sonhamos demais, sabemos demais. Temos demasiada informação e mesmo assim, sabemos sempre que não é suficiente. Vivemos angustiados porque não sabemos viver felizes com aquilo que temos. Hoje acordei assim, nostálgica de tempos que não vivi, de lugares que nunca vi, mas que adivinho como tempos de vida pura e verdadeira. Vidas que se sabiam completas, porque não havia mais nada para desejar ou querer. Aquilo era a sua vida e aquilo era tudo. Pés no chão, corpo na água fresca do riacho, fruta colhida na hora em que se sentia fome.

Resolvi então fazer a minha pequena homenagem aos índios, falando sobre a sua contribuição para aumentar a riqueza da língua portuguesa. No Brasil existiam inúmeras línguas índias, mas os especialistas juntaram-nas em dois grandes grupos: o Tupi e o Macro-Jê, sendo o ramo Tupi o que mais influenciou o português. Como é natural a língua tupi influenciou mais a variante brasileira da nossa língua do que a nossa, mas é maravilhoso como algumas palavras cá chegaram e fazem parte da linguagem corrente.

Sabiá

As palavras de origem tupi estão muito presentes na toponímia brasileira. Muitos estados brasileiros têm nome de origem índia, como Amapá, Ceará, Pará, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Para além dos estados, muitas cidades têm também nome de origem índia. A influência tupi também foi muito importante na designação dos animais e das plantas. Muitos animais existentes no Brasil mantiveram o seu nome índio, como Capivara, Gambá, Jararaca, Sucuri e Sabiá. Muitos nomes são bem conhecidos dos portugueses também, como Arara, Jacaré, Jaguar e Jibóia. Em relação à flora existem também muitos exemplos de nomes índios ou de origem índia como Abacaxi, Açaí, Ananás, Caju, Ipê, Jaca e Pitomba. Também adorei descobrir que uma das minhas árvores preferidas, o Jacarandá, que enche as ruas de Lisboa de côr no início da Primavera tem nome Tupi. Fiquei a gostar ainda mais de Jacarandás.
Faltou falar da comida e das influências índias nessa área. Mas quem não conhece a farinha de mandioca e a tapioca? Quantos pratos não levam esses ingredientes?E há ainda a Paçoca,
um prato de origem índigena feito à base de farinha de mandioca e carne seca. Será bom? Deixo a pergunta às amigas virtuais brasileiras.
Há ainda palavras de origem índia que chegaram à língua portuguesa não por via Tupi, mas sim por via Aruaque, tais como batata, canibal, canoa, iguana e tabaco. Todas estas informações linguísticas foram retiradas daqui.

Hoje acordei Tupi... vou ali tomar um banho no riacho e já volto...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Mouros

Mouraria, Lisboa

Em algumas partes do país chamam os lisboetas de mouros. Eu que me orgulho de todas as minhas raízes, e são muitas, não me importo absolutamente nada que me chamem moura. É que nós somos mesmo um bocadinho mouros, só um bocadinho, mas somos. Os povos do Norte de Africa estiveram por cá durante um tempo considerável e como é natural deixaram a sua presença. Os Mouros deixaram a marca na cultura e principalmente na língua, existindo muitas palavras portuguesas de origem árabe. E não pensem os invictos habitantes da cidade do Porto que também não foram tocados pela presença da língua árabe. Ou aí em cima não se diz álcool, alfazema, algarismo ou álgebra? Estas são apenas algumas das palavras que chegaram ao português através do árabe. Mas existem muitas mais: alecrim, algema, algodão, azeite, azeitona, açafrão, açougue, garrafa, javali, laranja, laranjeira, limão, etc. E fiquem sabendo que o tão português azulejo também é uma palavra de origem árabe.
Pormenor dos azulejos da estação de metro Martim Moniz, porta de entrada para a Mouraria

A influência árabe foi mais sentida no sul do país, é certo, e isso nota-se bastante na toponímia. Muitas localidades do sul têm nomes de origem árabe como: Albufeira, Álcacer do Sal, Alcochete, Algarve, Alvito, Algés, Almada e Alverca (que vem da palavra árabe al-birka que significa pântano!)
Alguns bairros bem típicos de Lisboa têm nomes mouriscos como Alfama e Alcântara. E claro temos a Mouraria, bairro onde viviam os mouros que ficaram depois da reconquista cristã. Por isso, sim, somos um bocadinho mouros. Todos, não só os lisboetas, porque até a palavra mais católica de Portugal, Fátima, tem origem árabe.
Recentemente li um excerto de um livro brasileiro muito engraçado que se chama "O Português que nos Pariu", que conta de forma engraçada a história de Portugal vista por uma brasileira. Nesse excerto ela descreve a receita do português e nela explica, e muito bem, que nós somos feitos de uma pitadinha de um povo, mais uma pitadinha de outro e por aí fora. E hoje foi sobre a nossa pitadinha de mouro que me apeteceu falar.