segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Em Sintra...com Eça

Em Sintra sempre me lembro de Eça. Hoje não foi exceção, apesar da vila estar descaracterizada, com uma luminosidade rara e pouco típica, que quase lembrava a sua vizinha Lisboa. Seja como for, Sintra lembra-me sempre amores bucólicos e escondidos saídos dos romances de Eça. Amores lisboetas que se escondem em Sintra. Acho que todos os lisboetas amam a sua bela, fresca e palaciana Sintra. Eu amo. Muito.


"Lembrou-lhe de repente a notícia do jornal, a chegada do primo Basílio...

Um sorriso vagaroso dilatou-lhe os beicinhos vermelhos e cheios. - Fora o seu primeiro namoro, o primo Basílio! Tinha ela então dezoito anos! Ninguém o sabia, nem Jorge, nem Sebastião...

De resto fora uma criancice: ela mesmo, às vezes, ria, recordando as pieguices ternas de então, certas lágrimas exageradas!"




"Lembrava-se bem dele - alto, delgado, um ar fidalgo, o pequeno bigode preto levantado, o olhar atrevido (...)

Aquilo começara em Sintra, na quinta do tio João de Brito em Colares. (...)"

"Depois, vieram todos os episódios clássicos dos amores lisboetas em Sintra: os passeios em Seteais ao luar, devagar, sobre a relva pálida, com grandes descansos calados no Penedo da Saudade, vendo o vale, as areias ao longe, cheias de uma luz saudosa, idealizadora e branca; as sestas quentes, nas sombras da Penha Verde, ouvindo o rumor fresco e gotejante das águas que vão de pedra em pedra; as tardes na várzea de Colares, remando num velho bote, sobre a água escura da sombra dos freixos - e que risadas quando iam encalhar nas ervagens altas, e o seu chapéu de palha se prendia aos ramos baixos dos choupos!"


"Sempre gostara muito de Sintra! Logo ao entrar, os arvoredos escuros e murmurosos do Ramalhão lhe davam uma melancolia feliz!"

O Primo Basílio, Eça de Queiroz

sábado, 28 de agosto de 2010

never ending summer

O verão continua firme e forte, felizmente. Muitas pessoas já anseiam pelo Outono, estão fartas da praia, do calor, do chinelo no pé, das esplanadas. Querem entrar depressa na nova estação. Anseiam por comprar as botas e os casacos que já enchem as montras das lojas.

Not me. Eu agarro-me a este resto de verão como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira do navio. Quero que o verão se prolongue o mais possível. Quero o sol quente no corpo, a suave brisa marinha, o sal e os passeios ao ar livre.

O sol tem sido um bom companheiro e tem-me dado a energia que preciso para continuar. Haja ao menos uma boa razão para poder dizer Felizmente vivo em Portugal, um verão longo, que se prolonga por Setembro e, às vezes, Outubro. Não consigo nem imaginar como vou encarar o frio, os dias cinzentos, as botas e os casacos com a disposição com que ando.


O mês de Agosto, passado a trabalhar em condições ainda mais complicadas do que o habitual, deixou-me de rastos. Por enquanto vou aproveitar a semaninha de férias que me resta, a próxima, e tentar afastar a neura. Porque felizmente ainda vem verão pela frente...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Férias precisam-se...

...outra vez.

As férias foram boas. Muito boas. Mas não consegui descansar aquilo que realmente precisava de descanso: o cérebro. Esse não parou de fervilhar com preocupações e urgências relacionadas com mudanças profissionais que têm obrigatoriamente que acontecer. Caso não aconteçam o meu futuro certo é a loucura. Mas loucura mesmo, daquela de me pôr numa camisa de forças.


Nas férias do meu trabalhinho chato e enlouquecedor (mesmo assim, graças a Deus que o tenho porque me paga as contas) descansei o corpo mas não a mente. Empenhei-me quase a 100% nessa necessária mudança. Fiz testes de tradução para editoras e empresas, consolidei contactos, procurei muitas oportunidades de trabalho. Recebi alguns feedbacks positivos, mas ainda nada em concreto.

O regresso ao trabalhinho chato e enlouquecedor foi ainda mais enlouquecedor do que eu esperava. Para além de voltar à desesperante rotina da contabilidade, fui informada que com a possível saída de uma colega serei eu que irei substituí-la numa área que ainda detesto mais do que aquela em que me encontro actualmente. Claro que só me apetece fugir, apesar de saber que todas as fugas são impossíveis para mim.



E assim, aqui estou, ainda cansada; com o cérebro sempre a querer fugir para outros lugares, para longe dos odientos números. Sedenta de mudanças e aguardando a última semana de férias que será só em Setembro, esse mês ainda tão longínquo...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A língua mais bonita do mundo?

Bem... pelo menos na minha opinião emocional e muito tendenciosa. Em toda a sua enorme variedade, o Português é para mim a língua mais bonita do mundo.

Não resisti e roubei este vídeo à Raquel. O vídeo aborda a diversidade semântica e sintáctica existente entre as várias regiões do Brasil. É divertidíssimo e, na minha opinião, super interessante porque aborda um dos temas que acho mais fascinante no estudo das línguas: a diversidade linguística dentro de uma própria língua.

Mas este tema também pode ser "perigoso", porque a diversidade linguística pode sempre levar-nos a um tema tabu e difícil de abordar neste universo da língua portuguesa: o grande afastamento entre as duas principais variedades do português, a europeia e a brasileira. Este afastamento sente-se mais a nível da oralidade do que a nível da escrita. A escrever entendemo-nos bem, o problema é quando falamos, não é?

Em qualquer língua do mundo existe diversidade linguística, tanto a nível regional como social. É um fenómeno completamente normal e saudável em qualquer língua viva. O problema é quando surgem demasiadas diferenças ao ponto de dificultar a compreensão. E é o que muitas vezes acontece com estas duas variantes do português.

Às vezes apavora-me a ideia de o português do Brasil se tornar a "língua brasileira", separando-se e cortando definitivamente o cordão umbilical, outras vezes vejo esse caminho quase como inevitável num futuro longínquo. No meio de tantas diferenças de semântica e de sintaxe (ordenação dos elementos na frase e suas funções), e sabendo que as línguas são vivas e imprevisíveis, será possível travar esse afastamento?


Eu adoro o português de Portugal. Eu adoro o português de Lisboa, e do Alentejo e do Porto. O do Minho e o do Algarve, o dos Açores e o da Madeira. Mas também adoro o português do Brasil, o do Rio, o de São Paulo, o mineiro e todos os outros. E apesar das diferenças sinto-o como meu.

Bem, chega de teses. Fiquem com o vídeo que é muito bom e se quiserem deixem uma opinião sobre o tema :)




Adorei tudo, mas o "crocodilinho de parede" é genial!