quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Tupi em mim


Desde sempre que tenho um fascínio enorme pelos povos indígenas do continente americano. Da mais complexa civilização Maia até às tribos mais simples das quais pouco sabemos. Quando era adolescente devorava os livros de história universal que havia lá por casa e lia fascinada sobre as civilizações Maia, Inca e Azteca. Para além desta civilizações complexas, também sempre amei as simples tribos que viviam em sintonia com a natureza. Sempre senti muito a tragédia destes povos, das pessoas que viviam na sua terra e que foram obrigadas a mudar por causa de povos estranhos, que chegaram ali e se sentiram no direito de tomar aquela terra para si e mudar tudo. Os índios foram perseguidos, foram escravizados, foram mortos. Os que resistiram foram forçados a mudar a sua cultura, a sua religião, o seu modo de vida. Como estes povos não tinham registos escritos, muito se perdeu da sua cultura. Tem sido sempre com dificuldade que os índios têm sobrevivido depois disso.



Muitas vezes as pessoas me ouviram dizer: "Eu queria ser índia, eu queria viver na Amazónia, no meio dos bichos, não saber que existia o resto do mundo e não querer mais nada a não ser viver." Sim, porque nós hoje queremos demais, sonhamos demais, sabemos demais. Temos demasiada informação e mesmo assim, sabemos sempre que não é suficiente. Vivemos angustiados porque não sabemos viver felizes com aquilo que temos. Hoje acordei assim, nostálgica de tempos que não vivi, de lugares que nunca vi, mas que adivinho como tempos de vida pura e verdadeira. Vidas que se sabiam completas, porque não havia mais nada para desejar ou querer. Aquilo era a sua vida e aquilo era tudo. Pés no chão, corpo na água fresca do riacho, fruta colhida na hora em que se sentia fome.

Resolvi então fazer a minha pequena homenagem aos índios, falando sobre a sua contribuição para aumentar a riqueza da língua portuguesa. No Brasil existiam inúmeras línguas índias, mas os especialistas juntaram-nas em dois grandes grupos: o Tupi e o Macro-Jê, sendo o ramo Tupi o que mais influenciou o português. Como é natural a língua tupi influenciou mais a variante brasileira da nossa língua do que a nossa, mas é maravilhoso como algumas palavras cá chegaram e fazem parte da linguagem corrente.

Sabiá

As palavras de origem tupi estão muito presentes na toponímia brasileira. Muitos estados brasileiros têm nome de origem índia, como Amapá, Ceará, Pará, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Para além dos estados, muitas cidades têm também nome de origem índia. A influência tupi também foi muito importante na designação dos animais e das plantas. Muitos animais existentes no Brasil mantiveram o seu nome índio, como Capivara, Gambá, Jararaca, Sucuri e Sabiá. Muitos nomes são bem conhecidos dos portugueses também, como Arara, Jacaré, Jaguar e Jibóia. Em relação à flora existem também muitos exemplos de nomes índios ou de origem índia como Abacaxi, Açaí, Ananás, Caju, Ipê, Jaca e Pitomba. Também adorei descobrir que uma das minhas árvores preferidas, o Jacarandá, que enche as ruas de Lisboa de côr no início da Primavera tem nome Tupi. Fiquei a gostar ainda mais de Jacarandás.
Faltou falar da comida e das influências índias nessa área. Mas quem não conhece a farinha de mandioca e a tapioca? Quantos pratos não levam esses ingredientes?E há ainda a Paçoca,
um prato de origem índigena feito à base de farinha de mandioca e carne seca. Será bom? Deixo a pergunta às amigas virtuais brasileiras.
Há ainda palavras de origem índia que chegaram à língua portuguesa não por via Tupi, mas sim por via Aruaque, tais como batata, canibal, canoa, iguana e tabaco. Todas estas informações linguísticas foram retiradas daqui.

Hoje acordei Tupi... vou ali tomar um banho no riacho e já volto...

8 comentários:

Inside me disse...

Muitas vezes também queria acordar Tupi...

... em que a vida é simples ...
... viver com o que temos ...
... sem stresses ...
... viver o dia a dia ...

...como dizes...

"Vidas que se sabiam completas, porque não havia mais nada para desejar ou querer. Aquilo era a sua vida e aquilo era tudo. Pés no chão, corpo na água fresca do riacho, fruta colhida na hora em que se sentia fome."

... cada vez estamos mais perto de tudo ... mas parece-me que cada vez estamos mais longe de nós mesmos...

Beijos Tupi

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Isabel,
Adorei seu post, e sinto estar na correria e não poder comentá-lo como gostaria.
Lembro que uma vez li uma matéria sobre uma aldeia indígena, e fiquei muito impressionada ao saber que, durante toda sua vida, aqueles índios conheciam e utilizavam aproximadamente uma centena de objetos diversos.
Que maravilha! Depender de somente 100 objetos para viver.
Acho que se abrirmos uma porta de um dos nossos armários e contarmos os objetos lá guardados, com certeza encontraremos mais de cem. Incrível, não?
Outra lembrança marcante que tenho de indígenas foi de uma cerimônia da qual participei, como membro de mesa. A cidade era Dourados, em Mato Grosso do Sul, um dos estados do Brasil. Bem próxima a Dourados existe uma aldeia indígena, com todos os problemas que se pode imaginar, decorrentes da proximidade com a "civilização".
Pois bem. Também fazia parte da mesa, junto às demais autoridades locais, um representante dos índios, que se apresentou trajado com terno (será fato, para vocês? ), mas com um cocar enorme na cabeça, para definir bem sua situação ambígua.
Beijos

Cláudia Marques disse...

Adorei o texto.

Tb sinto fascínio pelos índios, e fico revoltada com as atrocidades de que foram vítimas, na sua própria terra.
Além do que disseste, acho fascinante como curavam (curam) tudo com remédios naturais, ao contrário de nós ("civilizados"), que nos encharcamos em fármacos.
Ainda por cima foram os povos invasores que levaram para lá as doenças, pq eles, em contacto directo com a natureza, eram saudáveis. Inventaram vacinas, etc., e só os prejudicaram. Enfim, este assunto dava uma tese.

Qdo a Carol era mais pequena, deves lembrar-te de eu dizer tantas vezes: quem me dera ser índia, para a curar com ervas e plantas, só remédios da natureza, em vez de encharcá-la em antibióticos, como lhe fizeram os médicos, diminuindo-lhe as defesas.
Uma coisa é certa: na próxima encarnação, tb quero ser índia!!

J. Maldonado disse...

Só compensa ser-se tupi por algum tempo, pois sê-lo toda a vida é complicado para quem já está habituado ao progresso... :/

ameixa seca disse...

Há uns tempos atrás passaram uns documentários na RTP2 acerca dos povos indigenas que vivem na baía amazónica :) Adorei ver. Acho linda a cultura deles e, quando provei mandioca, entendi porque é que eles não enjoam daquilo :) É verdadeiramente delicioso! Falta-me provar tapioca!

Claudia disse...

Isabel,

Eu sou tupi, sou uma Tamoia guerreira que morre todos os dias um pouquinho pelo fato de viver longe da minha baía, da minha Guanabara.

Cada uma das nações indígenas que compõem o Brasil sobrevive forte na cultura brasileira, muito mais forte do que a nossa cultura europeizada e a nossa pele negra podem deixar transparecer. A alma brasileira é tupi-guarani e não há como negar, basta dar umas bandas pelo Brasil para se ver ou, como você mostrou, ouvir o português que se fala pelo Brasil.

Beijos,

C.

Isabel disse...

Inside, a vida seria mais fácil, não é?

Heloísa, é verdade. Incrível mesmo, só conhecer 100 objetos em toda uma vida. Tudo tão mais simples, não?

Mana, a melhor coisa do mundo são as plantinhas os seus poderes curativos. Sabes que também sou fã.

Maldonado, é claro que o meu texto é metafórico. Eu não quero prescindir das maravilhas do mundo moderno!

Ameixa, nunca provei nada com farinha de mandioca! A tapioca acho que é o tubérculo da mandioca. Mas não tenho a certeza.

Cláudia, felizmente a cultura índia não foi completamente destruída e continua a enriquecer a cultura brasileira, que é aquela grande mistura maravilhosa que todos conhecemos.

Bjs a todos

Raquel disse...

No dia que você acordou Tupi era aniversário da minha mãe =)

Fiz uma cadeira no semestre passado que falávamos exatamente sobre isso! Adoro!