Em Sintra sempre me lembro de Eça. Hoje não foi exceção, apesar da vila estar descaracterizada, com uma luminosidade rara e pouco típica, que quase lembrava a sua vizinha Lisboa. Seja como for, Sintra lembra-me sempre amores bucólicos e escondidos saídos dos romances de Eça. Amores lisboetas que se escondem em Sintra. Acho que todos os lisboetas amam a sua bela, fresca e palaciana Sintra. Eu amo. Muito.
"Lembrou-lhe de repente a notícia do jornal, a chegada do primo Basílio...
Um sorriso vagaroso dilatou-lhe os beicinhos vermelhos e cheios. - Fora o seu primeiro namoro, o primo Basílio! Tinha ela então dezoito anos! Ninguém o sabia, nem Jorge, nem Sebastião...
De resto fora uma criancice: ela mesmo, às vezes, ria, recordando as pieguices ternas de então, certas lágrimas exageradas!"
"Lembrava-se bem dele - alto, delgado, um ar fidalgo, o pequeno bigode preto levantado, o olhar atrevido (...)
Aquilo começara em Sintra, na quinta do tio João de Brito em Colares. (...)"
"Depois, vieram todos os episódios clássicos dos amores lisboetas em Sintra: os passeios em Seteais ao luar, devagar, sobre a relva pálida, com grandes descansos calados no Penedo da Saudade, vendo o vale, as areias ao longe, cheias de uma luz saudosa, idealizadora e branca; as sestas quentes, nas sombras da Penha Verde, ouvindo o rumor fresco e gotejante das águas que vão de pedra em pedra; as tardes na várzea de Colares, remando num velho bote, sobre a água escura da sombra dos freixos - e que risadas quando iam encalhar nas ervagens altas, e o seu chapéu de palha se prendia aos ramos baixos dos choupos!"
"Sempre gostara muito de Sintra! Logo ao entrar, os arvoredos escuros e murmurosos do Ramalhão lhe davam uma melancolia feliz!"
O Primo Basílio, Eça de Queiroz