domingo, 24 de outubro de 2010

Os mercenários

Já aqui falei sobre o livro Comer, Orar, Amar. Na verdade não achei o livro nada de especial, mas há pequenos trechos com os quais me identifiquei profundamente. Um deles é quando a autora fala de dois mercenários que a visitam com frequência, a depressão e a solidão. A minha alma respirou de alívio, com aquela sensação única no mundo que é descobrir que alguém (mesmo alguém que não nos conhece) tem uma ideia do que é estar na nossa pele. Também na minha vida esses mercenários estão sempre à espreita e à mínima coisa impõem a sua presença tirana, devastadora, assassina. Não, não estou a exagerar. Eles são capazes de matar. Matam alegrias, ânimos, vontades e momentos que não voltam mais.

Quase ninguém compreende muito bem o que é sofrer de depressão crónica, associada a ansiedade social. Obviamente que ninguém sabe o que é estar na minha pele, nem eu sei o que é estar na pele dos outros. Mas apesar de óbvio, às vezes dói. A falta de compreensão da nossa situação provoca a maior solidão do mundo. Os outros não têm culpa de não nos entenderem; simplesmente não estão na nossa pele. Não compreendem que não estamos deprimidos e sós porque queremos, mas porque não conseguimos estar de outra forma, por mais que nos esforcemos. A luta é diária e constante e há muitos momentos em que sentimos que nunca vamos conseguir vencer os mercenários. Depois a esperança renasce, nem que seja apenas por um breve momento. E é isso que nos mantém vivos.

7 comentários:

Inside me disse...

São mercenários mais comuns do que se pensa...

Mas há que manter a esperança acesa...e abafar os mercenários...

Beijos

Claudia disse...

Isabel,

querida, eu não tenho depressão mas conheço pessoas que sofrem e sofreram muito com esse problema.
É difícil falar assim, por aqui, mas depressão pode sim matar devagarzinho muitas coisas na vida de uma pessoa.

Recentemente passamos por uma perda terrível aqui, enfim, não deixe a peteca cair, atenção com tudo, com a dieta. Manter o amor próprio forte e evitar sentir-se sozinha ajudam bastante. O isolamento é uma tendência que deve ser evitado a qualquer preço. Force-se a sair, a fazer coisas para or outros, com outros e não deixe espaço para a solidão e a depressão.

Importante manter o foco da saúde para não deixar oportunista mercenários tomarem conta.

Beijo,

C.

pat disse...

... mas o que a gente aprende é a esperar junto. Esperar que os mercenários vão embora, mas juntos. Calados, mas juntos. Respeitando a luta, mas juntos.
Isso foi o que aprendi. Às vezes não podemos ajudar, mas podemos sempre estar juntos.
Lembre do filme como água para chocolate?

Noémia disse...

Minha querida, o que te posso apenas dizer é FORÇA.
Felizmente não conheço esses mercenários de perto nem de longe e ainda bem (só me faltavam também esses) mas conheço muita gente que vive como tu e se queixa dos mesmos sintomas. Se pudéssemos abraçar o outro e passar-lhe força e doses de energia positiva para afastar esses malandros, acredita que estaria agora agarradinha a ti e não te largava.
Força, miúda...:)

Dani disse...

É o fluxo e refluxo da maré. Como dizem os zen-budistas, a tristeza não é uma escolha, mas o sofrimento é - claro que há que não se contam aqueles com graves problemas psiquiátricos. Difícil seguir isto na prática, mas se não fossem estes períodos de apatia, questionamentos, como seguiríamos adiante? Os "baixos" tanto como os "altos" são forças propulsoras.

Beijos,

Dani disse...

Claro que aqui, não claro que há. Gralha.
Beijocas,

Rosa disse...

;-)