quinta-feira, 17 de março de 2011

Post deprê

Lido aqui:

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Já perdi a conta de quantas vezes me queixei aqui do meu trabalho. De quantas vezes já disse que odiava cada momento que passo de volta das malditas contas, dos balancetes, das reconciliações bancárias. Também já perdi a conta das vezes que, sem sucesso, tentei "virar a mesa". Ou talvez não tenha tentado o suficiente. Talvez as minhas tentativas de mudar sejam na realidade um pouco frouxas, sem ânimo, sem garra.
Não sei.
Mais de metade dos meus colegas de turma da faculdade estão, tal como eu, a trabalhar noutras áreas que não a tradução. Sei de turmas inteiras em que ninguém conseguiu trabalhar na área. Com estes dados desisto e tento convencer-me que terei que viver para sempre na frustração de um trabalho que não me preenche e ainda por cima me faz infeliz. Com o país mergulhado numa crise como há muito não se via, fica mais difícil para quem tem pouca coragem como eu, largar tudo e correr à procura do sonho.
Às vezes sinto-me mesmo a morrer lentamente. Esta semana tem sido especialmente dura. A minha inata incapacidade para os números está à flor da pele, logo quando tinha que estar bem enterrada e mascarada de uma vontade de ferro de conseguir vencê-los, os malditos números.
A única coisa que me anima são umas mini-férias no horizonte com uma escapadinha ao país vizinho. Até lá tenho que me ir aguentando.

Cais do Sodré - Tejo e margem sul
 Onde passo muitos finais de tarde. O meu Tejo, o meu grande lago, o rio que me acalma e me dá energia.

A Primavera na minha varanda
Eu amo todas as flores brancas. Transmitem-me paz e tranquilidade. Quando de manhã vou espreitar à varanda, estes malmequeres animam-me, principalmente se estiverem banhados pela luz do sol. Alimento-me de sol, de água (mar, rio) e de flores. E assim vou tentando não morrer lentamente.

10 comentários:

Lúcia Soares disse...

Isabel, um post lindo, embora sofrido. Muita gente passa pelo seu dilema: continuar a fazer o que não gosta ou partir para enfrentar outos caminhos...Acho que é o grande delima da vida, mesmo.
Quem não quer ficar em um casamento, quem não quer continuar um curso começado, quem não quer...tantas coisas!
Não sou corajosa, vivi muitos momentos assim em minha vida, mas incentivo todos a fazer o que querem. Aqui dizemos "chutar o pau da barraca". Quer dizer: chuta tudo pro alto...
Mas fácil não é!
Aproveita seu descanso, olhe suas flores, reveja seu rio. Acalme-se.
Um dia nosso momento chega.
Sem ser preciso morrer.
Beijo!

Lúcia Soares disse...

"grande dilema da vida", desculpa não ter relido antes de postar! bj

ameixa seca disse...

Está a tua área como a minha, agora no centro de estudo sempre vou fazendo o que gosto, embora seja temporário e nem tenha contrato. Precariedade ao mais alto nível e nem o Tejo, nem o Douro... tenho o Rio Ave e só o vejo quando chove muito e ele inunda os campos he he

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Isabel,
Não desista.
Acho que é preciso força para não abandonar o certo, quando aquilo que resulta dele é necessário.
Mas também acho que isso, que agora é certo, deve ser olhado como transitório, para que você possa se empenhar em conseguir algo na área para a qual se preparou.
Às vezes umas traduções eventuais, em concomitância com seu trabalho, poderão lhe trazer ânimo.
Não desista.
Beijos.

Beth/Lilás disse...

Ô minha querida, fica assim não!
Eu posso entender direitinho o que se passa contigo, pois tem alguém que eu conheço que vive este drama, mas se pensares bem e se leu o post de ontem em que deixei aquelas palavras do indiano, verás que temos que ir à luta, porque sempre haverá um caminho. Olha a sua juventude.
Desejo que o seu dia seja de luz e harmonia no coração. Olhe o Tejo, realmente este rio passa uma coisa boa, reluzente, pacífica, tranquilizante. Adorei olhá-lo de cima da colina, fiquei sentada com meu marido olhando-o e pensando em quantas vezes foi cantado e falado antes de eu conhecê-lo pessoalmente.
A natureza traz as respostas para nossos dilemas, por isso busque nela sua força.
umbeijo e abraço apertado, carioca

pat disse...

Oi, Isabel: saiba que você não está sozinha neste "morrer".
Estou lutando há muito, vendo minha vida e minha força diminuir a cada dia que passa; tudo porque fiz ao contrário tudo o que está escrito no início do post. Mas virei a mesa e abandonei o emprego. Hoje sou "sustentada" por minha família. Estou mais infeliz ou menos? É difícil saber. Tento me alimentar de sonhos que um dia podem se realizar (com que esforço tento sonhar!). Sei qual foi meu erro: Foi justamente não romper com todos que me amedrontavam.
Ah, querida Isabel, não faz bem eu desabafar com você!
Vamos vivendo, ninguém sabe mesmo o que a vida nos reserva.
Bjs
Pat

Isabel disse...

Lúcia, um dia eu chuto o pau da barraca! Estou a ganhar coragem aos pouquinhos :)

Ameixa, felizmente não sinto a precariedade, porque sei que onde estou dificilmente me mandam embora; nesse aspecto tenho sorte apesar de tudo. Mas ainda bem que gostas do que estás a fazer, do mal o menos :)

Heloísa, obrigada pela força. Eu tento não desistir, mas de vez em quando a esperança abandona-me e bato no fundo do poço. Depois tenho que voltar a subir à superfície e encarar a vida tal como ela é.

Beth, engraçado você falar na minha juventude. Muitas vezes sinto que estou a ver passar a minha juventude sem fazer tudo o que eu queria e isso me traz frustação, mas tenho que seguir em frente, encontrar razões para continuar a lutar e tentar melhorar a minha vida. Um dia melhora :)

Pat, querida, pode desbafar aqui comigo sempre que quiser. Os blogs servem também para partilhar experiências e sentimentos, e às vezes é bom saber que alguém passa por situações semelhantes e tem dilemas parecidos com os nossos.
Espero que os seus e os meus sonhos se realizem.

Um abraço forte para todas vocês, minhas queridas amigas do outro lado do Atlântico.

Dani disse...

Querida Isabel,

Tenho acompanhado a sua luta, e sei como ela é difícil. Quase sempre, sejam quais forem as nossas escolhas, temos de abrir mão disto ou daquilo. Não é fácil, e nem sempre estamos dispostas ou temos estrutura para arcar com mudanças.
Espero que esse momento de viragem chegue logo para si. Enquanto isso, essas pequenas coisas - as únicas que realmente possuímos - sirvam-te de bálsamo.
Beijos,

Isabel disse...

Querida Dani,
esta luta já dura há muito tempo e de vez em quando chego a um ponto de saturação. Foi o que aconteceu agora. Felizmente tenho agora um passeio nos próximos dias que me faz esquecer todos os problemas durante algum tempo :)
Eu sei que a mudança é necessária, mas neste momento não tenho condições para isso, preciso de ter paciência e aguentar mais um pouco. Estou a tentar aprender com os Japoneses a encarar a vida de outra forma, a ter paciência e a esperar sem sofrimento, mas é tão difíííícil!
Bjs

Leonardo Zegur disse...

Isabel, te enviei um e-mail para este e-mail. Espero respostas... quero trocar ideias com você, suas palavras me emocionaram.