Expiação
Não consigo acreditar que só aos 33 anos descobri Ian McEwan. Mas assim que comecei, não consegui mais largar. Já li três, mas pretendo ler todos os livros deste autor. Como já aqui disse estou completamente apaixonada pela escrita de Ian McEwan. Faz-me vibrar. Leio e releio frases de tão lindas que são, de tão inteligentes, de tão bem escritas.
O último livro que li foi este magnífico Expiação, que recomendo vivamente. Já tinha visto o filme, que achei muito bom, mas o livro consegue ser mil vezes superior. E arrebatador. Acho que vou fazer apenas um pequeníssimo resumo da história para não estragar a surpresa de quem não leu: Uma criança imaginativa demais julga mal alguns acontecimentos que presencia e comete um erro que marcará para sempre três vidas, a dela, Briony Tallis, a da irmã mais velha, Cecília Tallis e a de Robbie Turner.
Fiquem com este bocadinho:
"Enquanto esteve preso, a única mulher por quem podia ser visitado era a mãe. Caso estivesse "inflamado", diziam eles. Cecilia escrevia todas as semanas. Apaixonado por ela, desejoso de manter a sanidade por ela, estava naturalmente apaixonado pelas palavras dela. Quando lhe escrevia fingia ser como era antigamente, mentia para se mostrar são. Por medo do psiquiatra, que funcionava como censor, nunca podiam ser sensuais, nem sequer emotivos. Estava numa prisão considerada moderna, esclarecida, apesar do seu ar vitoriano. Tinham diagnosticado, com precisão clínica, que ele era um indivíduo com uma hipersexualidade mórbida, que precisava tanto de ajuda como de correcção. Não devia ser estimulado. Algumas cartas - tanto dele como dela - eram confiscadas por uma tímida expressão de afecto. Por isso escreviam sobre literatura, usando as personagens como código. Em Cambridge tinham-se cruzado na rua. Tantos livros, tantos casais felizes ou trágicos sobre os quais nunca se tinham encontrado para discutir! Tristão e Isolda, o Conde Orsino e Olívia, Troilus e Criseyde, Mr Knightley e Emma, Vénus e Adónis. Turner e Tallis. Uma vez, em desespero, referiu-se a Prometeu, acorrentado a uma pedra, com o fígado a ser devorado diariamente por um abutre. Por vezes ela era a paciente Griselde. A referência a "um canto tranquilo na biblioteca" era um código para êxtase sexual. Também descreviam a sua rotina diária com um pormenor ao mesmo tempo monótono e amoroso. Ele relatava todos os aspectos da vida da prisão, mas nunca lhe dizia a que ponto era estúpida. Era óbvio. Nunca lhe dizia que tinha medo de morrer. Era demasiado claro. Ela nunca escrevia que o amava, embora o tivesse dito, se soubesse que essas palavras chegariam até ele. Mas ele sabia.
Disse-lhe que tinha cortado com a família. Não voltaria a falar com os pais nem com os irmãos. Ele seguiu de perto todos os passos dela para ter o diploma de enfermeira. Quando ela escreveu:" Hoje fui à biblioteca buscar o livro de anatomia de que te falei. Arranjei um canto sossegado e fingi que estava a ler", ele soube que Cecilia bebia das mesmas memórias que o consumiam todas as noites, por baixo dos finos cobertores da prisão."
Expiação, Ian McEwan
Nota: As imagens são cartazes de promoção do filme
O último livro que li foi este magnífico Expiação, que recomendo vivamente. Já tinha visto o filme, que achei muito bom, mas o livro consegue ser mil vezes superior. E arrebatador. Acho que vou fazer apenas um pequeníssimo resumo da história para não estragar a surpresa de quem não leu: Uma criança imaginativa demais julga mal alguns acontecimentos que presencia e comete um erro que marcará para sempre três vidas, a dela, Briony Tallis, a da irmã mais velha, Cecília Tallis e a de Robbie Turner.
Fiquem com este bocadinho:
"Enquanto esteve preso, a única mulher por quem podia ser visitado era a mãe. Caso estivesse "inflamado", diziam eles. Cecilia escrevia todas as semanas. Apaixonado por ela, desejoso de manter a sanidade por ela, estava naturalmente apaixonado pelas palavras dela. Quando lhe escrevia fingia ser como era antigamente, mentia para se mostrar são. Por medo do psiquiatra, que funcionava como censor, nunca podiam ser sensuais, nem sequer emotivos. Estava numa prisão considerada moderna, esclarecida, apesar do seu ar vitoriano. Tinham diagnosticado, com precisão clínica, que ele era um indivíduo com uma hipersexualidade mórbida, que precisava tanto de ajuda como de correcção. Não devia ser estimulado. Algumas cartas - tanto dele como dela - eram confiscadas por uma tímida expressão de afecto. Por isso escreviam sobre literatura, usando as personagens como código. Em Cambridge tinham-se cruzado na rua. Tantos livros, tantos casais felizes ou trágicos sobre os quais nunca se tinham encontrado para discutir! Tristão e Isolda, o Conde Orsino e Olívia, Troilus e Criseyde, Mr Knightley e Emma, Vénus e Adónis. Turner e Tallis. Uma vez, em desespero, referiu-se a Prometeu, acorrentado a uma pedra, com o fígado a ser devorado diariamente por um abutre. Por vezes ela era a paciente Griselde. A referência a "um canto tranquilo na biblioteca" era um código para êxtase sexual. Também descreviam a sua rotina diária com um pormenor ao mesmo tempo monótono e amoroso. Ele relatava todos os aspectos da vida da prisão, mas nunca lhe dizia a que ponto era estúpida. Era óbvio. Nunca lhe dizia que tinha medo de morrer. Era demasiado claro. Ela nunca escrevia que o amava, embora o tivesse dito, se soubesse que essas palavras chegariam até ele. Mas ele sabia.
Disse-lhe que tinha cortado com a família. Não voltaria a falar com os pais nem com os irmãos. Ele seguiu de perto todos os passos dela para ter o diploma de enfermeira. Quando ela escreveu:" Hoje fui à biblioteca buscar o livro de anatomia de que te falei. Arranjei um canto sossegado e fingi que estava a ler", ele soube que Cecilia bebia das mesmas memórias que o consumiam todas as noites, por baixo dos finos cobertores da prisão."
Expiação, Ian McEwan
Nota: As imagens são cartazes de promoção do filme
14 comentários:
Bom como sou do contra... Já sabes que para mim este livro foi a desilusão literária do ano...
Mas ainda bem que há diversos gostos.
Bom 2009
Isabel,
Não li Expiação, mas vi o filme, que gostei muito.
Do Ian McEwan, li Sábado. Confesso que pensei que gostaria mais. Quais os outros que você leu?
Beijos
Pipas, o mundo é interessante porque somos todos diferentes :)
Heloísa, li Sábado e Na Praia de Chesil, agora Expiação e em seguida vou ler Amsterdão. Sábado eu li em inglês, e apesar de achar uma leitura difícil, gostei bastante.
Bjs
Bem eu não li nenhum...
...estou a ficar tentado!... mas vou resistir :-p... pelo menos até á opinião do próximo...
... enquanto ela não chega e o tempo não estica vou lendo outro genero...
Bem, estou a sentir-me bastante ignorante, porque do Ian McEwan, li NADA e nada, como sabem, não é o nome de nenhum dos seus livros, eu é que não li mesmo nada dele!
Depois de mais esta tua descrição, fiquei com bastante vontade de ler, e ainda com + curiosidade devido às opiniões contraditórias. Não sei é qdo terei tempo...
Querida,
Também gosto do Ian McEwan e li Atonement/Expiação em inglês pois ganhei de presente de aniversário uns anos atrás. Gostei de ler o trecho em português.
Mas não vi o filme. Me deu nervoso ver o trailer com aquelas imagens da Keira Knightley tão esquálida que mais parecia um esqueleto e aquele garoto apático no papel do Robbie. Coisas de quem leu o livro antes de ver o filme. Não gostei do que vi no trailer. Talvez veja no DVD qualquer dia desses.
Mas nunca li mais nada do McEwan além do Expiação. Queria ler um livro que se chama Sábado, você leu?
Beijos,
C.
Isabel,
Acabei de ver o comentário da Heloísa e sua resposta para ela. Você leu Sábado em inglês e aí? Gostou? Quase este livro comprei outro dia, em inglês. Ainda não dá para ler literatura em norueguês e livros em português por aqui não tem. Preciso importar do Brasil. Aqui acho todos os livros em inglês, qualquer um, nas livrarias normais.
C.
Cláudia, gostei bastante de Sábado. Fala de temas muito actuais e está muito bem escrito. Fiz um post sobre esse livro em Novembro e coloquei alguns trechos em inglês.
Foi um livro que me fez pensar muito sobre o mundo. Bjs
Vou checar teu post sobre o livro Sábado. Estou faz tempo curiosa para ler este livro.
Obrigada,
C.
Olá
Tenho acompanhado seu blog pois tb gosto muito de livros! E quanto ao Ian McEwan, realmente é fantástico. Vc leu o livro dele cujo título é "Na Praia"? É brilhante, depois me conte o que achou!
bjs e parabéns pelo lindo blog
Se tiver interesse passe pelo o meu blog! Vi que temos interesses e gostos em comum, como o Vinicius de Morais, nana cayme, vanessa da mata!
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