quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Mouros

Mouraria, Lisboa

Em algumas partes do país chamam os lisboetas de mouros. Eu que me orgulho de todas as minhas raízes, e são muitas, não me importo absolutamente nada que me chamem moura. É que nós somos mesmo um bocadinho mouros, só um bocadinho, mas somos. Os povos do Norte de Africa estiveram por cá durante um tempo considerável e como é natural deixaram a sua presença. Os Mouros deixaram a marca na cultura e principalmente na língua, existindo muitas palavras portuguesas de origem árabe. E não pensem os invictos habitantes da cidade do Porto que também não foram tocados pela presença da língua árabe. Ou aí em cima não se diz álcool, alfazema, algarismo ou álgebra? Estas são apenas algumas das palavras que chegaram ao português através do árabe. Mas existem muitas mais: alecrim, algema, algodão, azeite, azeitona, açafrão, açougue, garrafa, javali, laranja, laranjeira, limão, etc. E fiquem sabendo que o tão português azulejo também é uma palavra de origem árabe.
Pormenor dos azulejos da estação de metro Martim Moniz, porta de entrada para a Mouraria

A influência árabe foi mais sentida no sul do país, é certo, e isso nota-se bastante na toponímia. Muitas localidades do sul têm nomes de origem árabe como: Albufeira, Álcacer do Sal, Alcochete, Algarve, Alvito, Algés, Almada e Alverca (que vem da palavra árabe al-birka que significa pântano!)
Alguns bairros bem típicos de Lisboa têm nomes mouriscos como Alfama e Alcântara. E claro temos a Mouraria, bairro onde viviam os mouros que ficaram depois da reconquista cristã. Por isso, sim, somos um bocadinho mouros. Todos, não só os lisboetas, porque até a palavra mais católica de Portugal, Fátima, tem origem árabe.
Recentemente li um excerto de um livro brasileiro muito engraçado que se chama "O Português que nos Pariu", que conta de forma engraçada a história de Portugal vista por uma brasileira. Nesse excerto ela descreve a receita do português e nela explica, e muito bem, que nós somos feitos de uma pitadinha de um povo, mais uma pitadinha de outro e por aí fora. E hoje foi sobre a nossa pitadinha de mouro que me apeteceu falar.

11 comentários:

Cláudia Marques disse...

Adorei a aula de História. Isto de ter uma irmã culta é outra coisa...
Só não achei graça nenhuma que estejas a insinuar que eu vivo num pântano!! Ai a brincadeira...
Mas até faz bastante sentido, pq devido ao facto de ser tão perto do rio, existem ainda hoje bastantes terrenos pantanosos ali à beira Tejo, o que aliás até se vê bastante bem quando se viaja de comboio: toda aquela zona desde Vila Franca, Alhandra, Alverca, quase até à Póvoa de Santa Iria, tem bastantes terrenos "alagadiços".
E então agora com esta chuva que teima em não parar de cair...
E que vivam os mouros!!

Anónimo disse...

É de facto uma pena, que os portugueses não tenham orgulho nas suas raízes e dos processos de aculturação que tivemos durante a nossa história.
Muito poucos são aqueles que conheçem a importância dos Mouros em Portugal.
Parabéns pelo texto.

kiss kiss

ameixa seca disse...

Querida, o que mais de diz aqui em cima é alcóol e depois de ingerir o alcóol dizem-se outras coisas que não são práqui chamadas ;)

Claudia disse...

Isabel,

Adorei a postagem. E eu não me lembrava que tinha um bairro em Lisboa chamado Mouraria.

Para o Brasil foram muitos mouros portugueses, em geral fugidos de perseguições em Portugal e até hoje há quem faça referências ao mouros, tipo "o fulano é descendente de mouros" etc...

Meu avô, pai de minha mãe, era descendente de mouros espanhóis e o nome de família da minha mãe que eu carrego comigo é Pastor, um nome tradicional da região da Andaluzia.

Mas você sabe que uma preseça muito forte que saiu de Portugal para o Brasil foram os ciganos. O avô do meu pai, que era comerciante de carnes em Lisboa e era descendente de um 'cristão novo', era chamado de cigano. Meu bisavô negava que fosse cigano, ou judeu, o que explicava uma série de coisas. Até hoje eu não sei se ele não sabia de fato a história de seus antepassados ou se negava a história.

Enfim, meu sangue é pura mistura de povos renegados e perseguidos. Eu adoro!!! Por isso minha obrigação de ser atuante pelo direitos das minorias.

C.

Inside me disse...

Hoje chamamos Mouros a alguns do nosso passado, como nos chamarão a nós no futuro... que identificação nos será dada? Seria interessante saber!

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Isabel,
Achei ultra-interessante seu post. E nós, brasileiros, também temos nossas pitadinhas mouras adquiridas indiretamente. Enfim, temos sangue semelhante.
Beijos

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Isabel,
Esqueci de comentar sobre aquele fado lindo que, se não me engano, começa com um "Ai Mouraria ..."
Beijos

Nilson disse...

Isabel, o teu "artigo" me faz pensar mais e mais na minha propria etnia. Ultimamente tenho verificado boas historias sobre a presenca dos mouros na Espanha e em Portugal e me quedo muito curioso sobre a origem da minha propria familia. Um lado da minha familia tem pele morena e nariz adunco (como o dos arabes ou judeus).

A minha intencao eh um dia descobrir mais sobre as minhas origens em Portugal (os dois lados da minha familia vieram daih).

Vc. me inspirou com o teu jeito lvre e informativo...

Um abraco,

Nilson

Anónimo disse...

uma das razões de de chamar mouros aos habitantes abaixo de coimbra não só de lisboa! É a seguinte eles na sua estadia na peninsula iberica tiveram menos de 100 na invicta e no sul em lisboa tb tiveram mais de 300 anos até 400 anos por isso não venham dizer k wí em baixo nao sao mouros ate nos traços das pessoas nota-se

Isabel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isabel disse...

Pois é senhor anónimo, nós cá em baixo somos todos muito escuros e com verdadeiros traços árabes. Na rua até já me perguntaram várias vezes se eu não era marroquina, mas não, juro que sou portuguesa para desgosto de muitos... E para a próxima releia o seu comentário antes de publicar, porque se há coisa que uma moura não tolera é mau português.