O Acordo Ortográfico tem sido alvo de muita polémica. Para ficar mais esclarecida e poder tomar um partido nesta acesa discussão, andei a fazer umas pesquisas. Em primeiro lugar descobri que esta vontade de unificar a ortografia da nossa língua já começou em 1911, altura do primeiro acordo. Foi nessa época que passámos a escrever farmácia com f e não com ph, por exemplo.
Bandeira de Cabo VerdeEm Portugal, o acordo sempre foi contestado por um grande número de intelectuais, sendo Vasco Graça Moura, o seu maior crítico. O Governo, sem falar muito no assunto, tratou de ratificar o acordo em 2008, mas o mesmo ainda espera aprovação do Parlamento e do Presidente da República. Caso seja aprovado, entrará imediatamente em vigor, apesar de ser permitida uma fase de adaptação de 6 anos, durante os quais serão permitidas as duas grafias.
Bandeira da Guiné Bissau E agora, o mais importante: O que vai mudar com o novo acordo?
1º - O alfabeto português passará a incluir definitivamente as letras k, w e y. Isto não é grande mudança, a minha sobrinha de 7 anos já aprendeu o alfabeto assim.
2º - A supressão das consoantes mudas. Esta é talvez a questão que tem levantado mais polémica aqui em Portugal. Alguns linguistas defendem que vamos privar a nossa língua de mais um traço da sua origem latina. Eu pessoalmente, sei que me vai custar um pouco, mas apenas por questão de hábito. Aprendi a escrever assim, sempre escrevi assim, não vai ser fácil mudar de um dia para o outro. Mas se observarmos a questão logicamente, a língua é na sua essência oral. A escrita é apenas uma representação da oralidade. E se, como o nome indica, as consoantes são mudas, não estão lá a fazer nada. Nós pronunciamos ótimo e não óptimo, só para dar um exemplo.
Vamos a alguns casos concretos (isto não vai ser fácil!)
- c antes de c - transaccionar passa a transacionar; leccionar passa a lecionar.
Manter-se-ão as palavras em que o primeiro c é pronunciado, como: friccionar, perfeccionismo, porque neste caso não são consoantes mudas.
- c antes de ç - acção passa a ação; reacção passa a reação.
Irão manter-se iguais as palavras em que o primeiro c é pronunciado, como: fricção, sucção.
- c antes de t - acto passa a ato; actriz passa a atriz, projecto passa a projeto.
Irão manter-se iguais as palavras em que o c é pronunciado, como: bactéria, octogonal. Em Portugal manteremos facto, porque pronunciamos o c e porque fato para nós é outra coisa (terno no Brasil).
- p antes de c - percepcionar passa a percecionar.
Mantém-se opção, opcional, núpcias, etc, porque o p é pronunciado.
- p antes de ç - adopção passa a adoção.
Mantém-se corrupção, opção, etc, porque o p é pronunciado.
- p antes de t - Egipto passa a Egito; baptismo passa a batismo.
Mantém-se inapto, eucalipto, porque o p é pronunciado.
3º - Agora a questão dos acentos, que para mim é a mais complicada.
São suprimidos alguns acentos gráficos em palavras graves:
- crêem, vêem, lêem passam a creem, veem, leem :/
- pêra, pêlo, pólo passam a pera, pelo, polo :(
As palavras acentuadas no ditongo oi e ei perdem o acento:
- ficam assim estoico, asteroide, boleia, plateia, ideia.
Supressão do trema:
- aguentar, frequente, linguiça e agora devem ser os brasileiros que fazem :/
Supressão do acento circunflexo em palavras como:
- abençoo, voo, enjoo :(
Bandeira de Moçambique Quando existem palavras que são pronunciadas de maneira diferente nos vários países, continua a existir a dupla grafia, como nos seguintes casos: