sábado, 9 de maio de 2009

Pedi tanto, mas tanto...

... que os textos que estou a traduzir finalmente começaram a ficar interessantes. Assim, trabalho com mais prazer, mais ânimo, coisa que me tem faltado um pouco ultimamente. Querem ver o que eu ando a traduzir? Não? Fica aqui um excerto na mesma:

"No relato ficcional de Kingsolver (1998) de como uma rapariga americana vê o corpo dos congoleses, vislumbramos como estes processos ocorrem através das nossas interacções sociais da vida quotidiana.
Ruth May, a personagem de Kingsolver é a jovem filha de um missionário americano que leva a sua família inteira para África nos anos 60. Recentemente chegada à cidade de Kilanga, Ruth May repara em como a sua vizinha que perdeu as pernas num incêndio continua a procurar o seu marido e os seus setes filhos e diz: “ninguém pestaneja quando ela corre com as suas mãos no chão em direcção ao rio para lavar as suas roupas”. A própria Ruth May tem uma irmã deficiente, mas esta menina apenas atrai curiosidade devido ao seu tom de pele, não ao seu corpo diferente:

“Ninguém se interessa que ela tenha um lado do corpo diferente, porque todos têm um filho deficiente ou uma mãe sem um pé, ou alguém na família sem olhos. Quando olhamos para a rua, lá vai alguém a quem falta uma parte do corpo e sem o mínimo embaraço com isso."

Os seus cabelos louros e os seus rostos vermelhos violentamente queimados pelo sol, tornam as duas irmãs um foco de atenção para as crianças e adultos da cidade, e são elas que são transformadas em “aberrações da natureza”. Assim, Ruth May percebe que as suas usuais objectivações do corpo já não fazem sentido neste contexto, e é a sua mãe que sublinha porquê:

“aqui eles têm que usar os seus corpos como nós temos que usar as coisas lá na nossa terra – como roupas ou ferramentas de jardim, ou qualquer outra coisa. Quando nós estaríamos a gastar os joelhos das nossas calças, eles têm que gastar os seus joelhos”.

Em harmonia com a sua diferença incorporada, as duas irmãs apercebem-se através destas interacções, do valor social e cultural que determinados tipos de corpos representam em termos de identidade; e elas também percebem o estigma que os corpos que se desviam dos tipos de objectivações centrais no pensamento e na prática ocidental atraem."

Se por acaso não acharam este excerto minimamente interessante, pensem em como deveriam ser os outros textos que eu traduzi até aqui! Estejam à vontade para fazerem a revisão da minha tradução, corrigindo um ou outro pormenor, kkkkkkk...

11 comentários:

J. Maldonado disse...

Acredito que seja uma boa tradução, pois o texto está impecável e aborda um tema interessante: a interacção cultural.
Parabéns!

Cláudia Marques disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cláudia Marques disse...

Como sou uma grande chata, e já que tu é que pediste, vou fazer um reparo: não me soa lá muito bem «Ruth May repara em como...»
Mas tb não me perguntes por alternativas, pq não tenho...
foi só para chatear... lol...
como estive toda a tarde a fazer avaliações, ainda estou em maré...

mas o texto parece ser interessante!

Isabel disse...

Obrigada Maldonado, também estou a começar a achar interessante.

Mana, obrigada pela dica, vou pensar numa alternativa.
Bjs

Cláudia Marques disse...

... e parece-me bem traduzido! :)

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Isabel,
Também achei que o resultado final deve ser bom. Mas o difícil é chegar a esse resultado final, na tradução. Depois de traduzido ...tudo bem, não é?
Beijos

Claudia disse...

Isabel,

Eu achei o texto interessantíssimo e acho que deve ser porque a tradução é de boa qualidade.

Mas eu imagino o que deve ser ter que traduzir tratados em mais tratados de chatice. Trabalho difícil esse, eu ia morrer de sono se tivesse que traduzir coisas chatas...

Bj,

C.

Isabel disse...

Obrigada mana, já arranjei uma substituição para o erro que me apontaste!

Heloísa, é difícil mesmo. tenho que rever o trabalho muitas vezes para detectar influências da língua de origem. Muitas vezes nós ficamos agarrados ao original e é difícil criar um bom texto em português.

Cláudia, obrigada. Este texto agora é bem mais interessante, os outros eram horrivelmente chatos e teóricos e eu estava a sofrer muito a ter que traduzi-los, rs rs

Beijos a todas

ameixa seca disse...

Olha que é interessante, eu gosto destas questões sociológicas, ambientais e culturais. É mais uma forma de conhecer um pouco do mundo, dos valores e julgamentos que todos fazemos :)

Noémia disse...

Olha eu sinceramente,discordo das opiniões dos outros.
O texto é mesmo um tédio!
Concordo que as nossas interacções quotidianas nos ensinam coisas novas...Mas não percebi patavina do exemplo da Ruth May porque a lógica da aberração só se desloca dos corpos mutilados para as peles avermelhadas. O julgamento sobre "diferença" continua a ser o mesmo!
Bom, isto também só é um excerto.
Acredito que esteja muito bem traduzido mas realmente dou-te razão e lamento-te, podia ser qualquer coisinha mais interessante! :)

Pati disse...

Oi Isabela! Achei interessante este texto! Mas com certeza é porque vc é uma excelente tradutora!
bjs