sábado, 6 de junho de 2009

Filhos

Já há muito tempo que pensava em falar deste tema no blog, mas não sei porquê tenho evitado, talvez porque não queria fazer um post de raiva. Mas um post da Luciana, deu-me vontade de passar da ideia à acção e agora de cabeça fria, resolvi falar sobre esse assunto.

Eu tenho 34 anos e não tenho filhos. Não tenho porque não tenho, não foi nenhuma decisão que eu tivesse tomado, simplesmente não aconteceu. Por este simples facto sou verdadeiramente "vítima" de preconceito todos os dias. Porque eu sou uma mulher de segunda classe. Eu não sou tão importante como uma mulher que é mãe. Eu ouço todos os dias coisas como "que preocupações é que tu podes ter, não tens filhos?". Pois é, eu sou um ser diminuido desta sociedade e tenho sempre que me curvar perante a superioridade das mães deste mundo. Porque elas têm filhos (quase sempre um) e ganharam um estatuto que eu não tenho. Eu sei lá o que é a vida, dizem elas. Eu sei lá o que é ter problemas! Realmente, não sei, mas consigo ter uma conversa normal durante cinco minutos que não tenha as palavras "o meu filho"! Essa proeza eu consigo realizar.

Não me entendam mal. Eu adoro crianças. Eu não risquei, de maneira nenhuma, da minha vida a possibilidade de ter filhos. Acho até que o tal do relógio biológico começou a fazer um tic-tac repentino aqui neste meu corpinho ou cabecinha, nem sei. Mas até que isso aconteça, porque é que tenho que ser uma mulher de segunda classe? E se eu nunca tiver filhos? Pobre de mim, nunca vou subir de categoria.

Eu compreendo perfeitamente a intensidade do sentimento de ser mãe. Compreendo que os filhos sejam as coisas mais importantes para os seus pais. Sei que é assim. Sei que a pessoa muda depois de ser mãe. Mas isso não faz das mães seres superiores com direito de espezinhar e humilhar as "pobres desgraçadinhas que não foram abençoadas com a maternidade".

Respeito perfeitamente uma mulher que opte por não ter filhos. É uma escolha como outra qualquer e que deve ser respeitada. As mulheres são livres. Podem fazer a opção de não ter filhos e não devem por isso ser olhadas de lado, apenas por não pertencerem ao mundo das supermães.

Infelizmente, quase ninguém aceita que uma mulher não tenha filhos. Porque persiste a ideia que "só se é uma mulher completa quando se é mãe". Esta frase foi-me dita na minha cara e na altura fez-me sentir mal comigo própria. Fiquei tão parva que nem reagi. Havia de ser agora que ela ía ver a mulher completa que eu sou!

Nota: Este desabafo, como é obvio, não é dirigido a todas as mães. Só àquelas que me irritam porque acham que eu tenho que fazer cedências constantemente porque não sou mãe. I have a life, you know? Se não sabiam, ficam a saber: Eu não sou mãe, mas tenho uma vida.

15 comentários:

Pepita Chocolate disse...

Entendo a tua posição. Aceito as tuas razões.Não é por não seres mãe que és menos mulher que as outras.

Eu quero muito ser mãe. Mas ainda não se proporcionou!Talvez um dia destes...

Beijinho e não ligues a essas parvoíces!

J. Maldonado disse...

Como eu te te compreendo, pois também passo pelo mesmo.
Sou da tua geração, nunca casei nem tenho filhos. Sofro directa e indirectamente a pressão do preconceito, pelo facto de me ter mantido solteiro até agora.
É certo que a pressão é maior no segmento feminino, mas no masculino também se faz sentir.
Um homem que esteja solteiro e sem filhos é visto como independente. Uma mulher já será encarada como egoísta, pois a sociedade acha que "só se é uma mulher completa quando se é mãe".
Irrita-me sobremaneira no dia-a-dia, nomeadamente no local de trabalho, quando as conversas giram em torno da vida conjugal. Essas pessoas são mal resolvidas sexualmente, i.e., umas frustradas.
O melhor que tens a fazer é não ligar a essas pessoas. Se insistirem nesses preconceitos, fala-lhe da vantagem do sexo anal na vida sexual delas...

Raquel disse...

Seja feliz com as escolhas que faz para a sua vida. O que os outros pensam disso, bem, isso vai ser sempre a opinião dos outros (mesmo que esses lhe amem). Outros que querem (porque também próprios sentem-se na obrigação) que faça parte de um retrato medíocre criado por uma sociedade excludente. A dor é inevitável, o sofrimento é opcional. Boa sorte.

Claudia disse...

Isabel,

Fui mãe por acaso, sem planejar e acho que talvez por isso eu ainda deseje a vida das mulheres sem filhos.

Sou uma mulher que não vê nada especial na maternidade, acho uma ilusão. A maternidade é vazia, é puro trabalho e dedicação, uma opção muito difícil nos dias de hoje onde a inteligência disputa um pouco do espaço antes ocupado apenas pelo instinto. Mas ainda hoje vejo mulheres terem filhos por motivos românticos e sem enhuma consciência da fragilidade das relações e do impacto devastador que a instabilidade delas tem sobre as crianças. Os amores acabam e as crianças ficam, muitas vezes destruídas.

Vejo uma ilusão, uma vontade de ficar grávida, exibir barriga, mas muito pouca disposição para amamentar os bebês, de cuidar e amar as crianças. A falta de dedicação das mães (e pais) é assustadora.

Pessoalmente admiro todos os que escolheram não ter filhos, meu melhores amigos e amigas não tem filhos.

Enfim, quem quer que faça direito. Quem não quer tá mesmo certo pois a tarefa é inglória.

Beijos,

C.

ameixa seca disse...

É isso e casar ou ter um namorado. Se não tiveres namorado és quase desclassificada de tudo que é vida social :)
Olha, se ter filhos é ter preocupações, já a sabedoria popular diz que "ter filhos é ter cadilhos" então eu passo... fiquem lá com ar superior que eu fico com o ar despreocupado :)
Sem querer ofender nenhuma mãe mas... esta vida não dá netos, quanto mais filhos!

K disse...

SOU MÃE DE DUAS PRECIOSIDADES
QUANDO ESTAVA GRÁVIDA DA PRIMEIRA VEZ E HIPER ATIVA, SUPER ANIMADA E PROCURANDO MIL COISAS PRA FAZER, VIERAM ME DIZER PRA PARAR, QUE EU NÃO PRECISAVA DAQUILO, QUE MEU FILHO "PREENCHERIA TODOS OS MEUS ESPAÇOS"
MEU PERIODO DE GRÁVIDA FOI PÉSSIMO, VOMITAVA TODOS OS DIAS E ENJOAVA ATÉ O MEIO-DIA, POR ISSO A TARDE ME DESDOBRAVA PRA FAZER TUDO O Q EU TINHA VONTADE
NOS TRES PRIMEIROS MESES DE VIDA DO MEU FILHO NÃO DORMI UMA NOITE SEQUER E DECIDI QUE TERIA APENAS UM FILHO, MAS O ANTICOCEPCIONAL FALHOU E FIQUEI GRAVIDA NOVAMENTE
MEU FILHO TINHA APENAS 8 MESE, PRECISAVA DE COLO, QUE EU NÃO PODIA DAR, PQ TINHA Q REPOUSAR O TEMPO TODO, ENTÃO MINHA PEQUENA NASCEU COM MUITAS COMPLICAÇÕES. ALERGIAS, HOJE
QUASE QUATRO ANOS DEPOIS,ENTENDO, E ACEITO QUE ELES NÃO PREENCHEM POR COMPLETO MINHA VIDA, PRECISO TRABALHAR, ESTUDAR, SAIR SOZINHA, COM MEU MARIDO, COM MINHAS AMIGAS DE VEZ EM QUANDO
EXISTEM DIAS QUE EU PRECISO DE UM TEMPINHO SÓ PRA MIM, APESAR DE NÃO EXISTIR DIAS QUE POSSA VIVER SEM ELES
NEM EU, SERIA TÃO MALDOSA A PONTO DE ENTREGAR MINHA VIDA NAS MÃOS DE DUAS CRIANÇAS, ELES MERECEM TER SUA PROPRIA VIDA, E NÃO SEREM RESPONSAVEIS PELA MINHA REALIZAÇÃO COMO MULHER
O AMOR É ASSIM, NÃO EXIGE, NÃO SUFOCA, NÃO ESMAGA
E NÓS SOMOS COMO SOMOS
MANDA QUEM TE ENCHE O SACO, CATAR COQUINHO
SÓ VC PODE PREENCHER SUA VIDA, COM O QUE LHE FAZ FALTA, SEJA O QUE FOR E QUANDO FOR

BEIJO GRANDE

Luciana disse...

Oi Isabel, vou colocar uma parte do seu post no meu blog, já como parte da série que tenho por lá, acredito que é muito importante mostrar que isso é uma coisa que incomoda muitas mulheres, apesar de não me incomodar pessoalmente, me incomoda saber que outras mulheres passam por situacões assim.

Coisa mais doida uma mulher dizer que só é completa depois da maternidade, ops, minha mãe me diz isso. Veja lá se eu vou me sentir incompleta e pra ser completa precisar gerar e ter um filho, o ter é bem no sentido da posse mesmo, porque muitas mulheres acreditam que tem os filhos, e tadinho deles.
Somos pessoas completas com ou sem filhos, filho não é trazido ao mundo pra completar ou complementar ninguém, tenho pena dos filhos de mulheres que pensam assim. E quando eles desgarrarem, como elas se completaram? Como sobreviverá essas mulheres pela metade?
Não sei, tenho pena.

Beijo

Margot Abirato disse...

Mães, não-mães, mulheres profissionais, os dois, só um, acho que o mulherio em geral cobra tanto do próprio mulherio... Nunca se é o suficiente, nunca se tem o suficiente, ou então quer ter demais, quer tudo fazer. Cansei das mulheres e das necessidades de justificarem-se, sempre, para outras mulheres. Muitas vezes penso em que século estamos. Portanto, não se sinta menos porque não é mãe. Sua vida é tão complicada e bela em sua singularidade, assim como o grande clichê de ser mãe. Ninguém é melhor nem menor, cada um é o que faz, escolhe e constrói, e em cada escolha e vida há sua beleza e seu complicômetro. Ah, cheguei aqui através do pequeno livro do exílio. Abraço

Cláudia Marques disse...

Essa conversa de só se ser completa com filhos é uma grande treta. É isso e a outra história parecida, a das caras-metade. "Só se é completo quando temos uma pessoa que "nos completa". Só se é completo se se tiver filhos." Tudo tretas.
Cada ser humano é um ser humano COMPLETO só por si. Não é outra pessoa que nos vai "completar", seja companheiro, companheira, filhos, etc.
Desde que nascemos que somos uma entidade, um ser completo!
Tenho dito! :)

Dani disse...

Isabel,

A questão da maternidade tem tantas variantes... Ás vezes as pessoas querem filhos, mas não podem ou não acontece, ou não querem e acontece, ou querem e acontece, mas não é como imaginado...
Enfim.
É uma questão pessoal e intransferível. É uma questão de destino ou de escolha.
Mas cada sociedade tem os seus valores, e as pessoas internalizam e repetem mantras sem quererem o mal do seu interlocutor, dizem as coisas porque é a norma.
É mesmo uma questão de ter para si a sua verdade, e ela não é da conta de ninguém, a não ser sua e do eventual parceiro - ou não, porque há quem escolha ter filhos só, pela adoção ou pela inseminação artificial.
Como disse uma vez a Ally McBeal - os problemas de cada um possuem a dimensão da vida de cada um.
Você é tão mulher quanto quem te disse isso, só vivem circunstâncias diferentes. Portanto, abstraia.
Um abraço,

Isabel disse...

Amigos, adorei os vossos comentários! Adorei que viessem aqui partilhar comigo as vossas opiniões sobre este tema tão complexo. Adorei saber que tantas pessoas interessantes passam por aqui ou chegam até aqui através de outros blogs interessantes. Voltem sempre, com as vossas opiniões que só trazem riqueza a este blog.
Bjs

Débora P. Costa disse...

oi flor!
então... conheci seu blog hj e já vou deixar um comentário.
estou numa turma de amigas que se casaram nos últimos 3 anos, e a partir de agora elas começaram a engravidar e a ter bebês... e a cobrança começou: quando será sua vez? ter q fazer um logo!
e qquer dorzinha de cabeça ou fome ou enjôo ou coisas do dia-a-dia vem seguida de um comentário: "acho q tá grávida".
isso desgasta né?
qdo for a hora, será a hora!
bjão pra vc!!

www.semglutensemlactose.blogspot.com

Noémia disse...

Não sei o que te dizer, Isabel.
Vivemos numa sociedade de ideias preconcebidas e preconceituosa.
Não só em relação aos filhos mas a tudo.
Os julgamentos sobre os outros, são fáceis e superficiais.
Vivemos por modas que nos são impingidas e vendem-nos também a felicidade em pacotes prontos a consumir e a descartar.
Se queremos ser felizes mesmo,aqui e agora, devemos conhecermo-nos bem e sabermos o que queremos, viver em consonância com isso indiferentes aos "palpites" de quem quer que seja.
A maior parte das vezes quem te agride com uma idiotice deste género, ter ou não filhos, tem à partida vários problemas:
1º Má educação evidente.
2º A maternidade dela tem alguma coisas obscura.
3º Há um problema mal resovido ou na relação matrimonial ou com os próprios filhos.
Tenho dois filhos, um rapaz e uma rapariga com 10 anos de diferença! Porquê? Porque quis assim.
E se não quisesse? Não tinha! :)
Faz o favor de seres feliz!

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Isabel,
O comentário da Noémia está perfeito, e não há qualquer coisa de 1ª, ou de 2ª classe em ter ou não filhos.
O que é importante é que haja uma decisão pessoal, e que assumida a decisão haja muito espaço para a felicidade.
Beijos

Unknown disse...

Olá, desculpa andar ausente do teu blog, mas como sabes a minha vida agora é bastante diferente do que era.
Em relação a este tema, apesar de ser homem,e tal como o maldonado diz e muito bem no seu comentário, também nos atinge.
Eu sou ligeiramente mais novo que tu, mas também já passei os 30, tenho a vida que tenho e que sabes qual é, sou independente deste os 17, detesto sentir-me preso, de ter responsabilidades, compromissos e de ter de dar satisfações do que faço ou deixo de fazer, por todas estas razões e mais algumas, sou visto como um "eterno adolescente", estão sempre a atirar-me à cara "já tens idade para ter juízo" mas eu pura e simplesmente "não lhes passo cartão" e sei que no fundo têm inveja de mim, sei que um dia ganharei esse juizo, mas até lá quero "curtir" a vida, continuar com as minhas viagens, com os meus hobbys e principalmente com a minha liberdade, posso parecer egoísta mas é a minha opção de vida, quem não gosta não olha.
Beijo e deixa seguir a vida na calma, quando acontecer, acontece não te preocupes.
Pipas