Eu adoro um livro com árvore genealógica, fico logo motivada para a leitura. Há qualquer coisa nas sagas familiares que me prendem a atenção e me fascinam. E este livro tem uma grande árvore genealógica, sem a qual o leitor estaria completamente perdido, uma vez que a narrativa não segue a ordem cronológica dos acontecimentos, sendo formada por uma série de analepses.
Como já disse, o livro aborda temas da história do Rio Grande do Sul, como os primeiros missionários jesuítas, a expulsão (e consequente sofrimento e muitas mortes) de um grande número de índios dessas missões para outros territórios devido a um acordo entre Portugal e Espanha (que punham e dispunham de terras e gentes), as ondas de imigração açoriana, alemã e italiana, e as guerras civis, mais conhecidas como Revolução Farroupilha e Revolução Federalista.
Quadro de José Wasth Rodrigues que retrata a Revolução Farroupilha
Em vez de colocar um excerto do livro, resolvi colocar um excerto do Prefácio de Maria Lúcia Lepecki, com o qual me identifiquei. Para quem não sabe Mª Lúcia Lepecki é uma professora universitária brasileira, de Minas Gerais, que vive e trabalha em Portugal há muitos anos, tendo inclusivamente sido professora da minha irmã na faculdade.
"Uma pessoa duvida da própria sensatez. Como prefaciar trilogia cujas 2348 páginas cobrem 200 anos (1745-1945), da história de uma família, os Terra Cambará, enquadrada em extensíssima galeria de personagens, todas elas pulsantes de vida? Uma pessoa duvida mais, se se lembrar de que nos três volumes de O Tempo e o Vento viu também um quadro da História do Rio Grande do Sul e, ricochete previsível, da História do Brasil durante dois séculos. Por cima disso, uma pessoa sabe perfeitamente que O Tempo e o Vento encontra escrita de extraordinária beleza, sem ponta de paralelo na restante obra de Verissimo e com muitíssimo poucas parecenças nas literaturas portuguesa e brasileira. Essa escrita, cujos meandros levei anos a discernir, garante um fôlego narrativo que tem, ao arrepio do que mandaria a lógica, três puras naturezas: a épica, a romanesca e a mítica. Caso para dizer: não há quem resista. Por isso acredito piamente que, tal como eu, o leitor amará apaixonadamente este livro e, por causa dele, carregará no coração o Rio Grande do Sul. Mesmo que, também tal como eu, nunca lá tenha posto os pés…"
Leiam e apaixonem-se.
16 comentários:
Nunca li o livro, mas vi a série há muitos anos e adorei-a.
A Glória Pires interpretava a personagem de Ana Terra.
Aprecio bastante as séries históricas brasileiras, que são bem mais interessantes do que as novelas. ;)
Maldonado, lembro-me muito vagamente de ter dado O Tempo e o Vento na televisão, não me lembro dos pormenores. Glória Pires deve ter feito uma óptima Ana Terra, a minha personagem feminina preferida do livro, que está cheio de personagens femininas fortíssimas.
O Tempo e o Vento...
Os bons livros... aqueles que nos levam nas palavras ...como pelo vento para locais distantes... através do tempo... por historias da vida e de vidas.
beijo
Bons ventos... te levem para bons tempos.
Isabel,
Também não li este precioso livro (ainda), mas vi a série que passou há muitos anos com a Glória Pires como uma das protagonistas. Digo "uma das", porque numa história tão densa, tão cheia de personagens, impossível ter um só protagonista.
Estou simplesmente alucinada para achar esta série em DVD aqui no Brasil e tê-la em casa para rever, mostrar ao filho que não gosta de ler, ver nos detalhes tudo aquilo que a gente quando vê uma só vez, fica querendo repetir para perceber melhor as nuances.
O Estado do Rio Grande do Sul é belíssimo, cheio de histórias como esta, gente que lutou para fazer um país melhor, gente de fibra.
Infelizmente, como tudo hoje em dia por aqui, está pobre o estado. Estive por lá há dois anos e fiquei com pena de ver a cidade de Porto Alegre, que aliás teve este nome em homenagem aos portugueses (Porto Alegre dos Casais, era assim antigamente), mas já não é uma cidade tranquila e ordenada, pelo contrário, um pouco violenta também e muito cheia em seus núcleos urbanos.
O interior não. O interior do RGS tem lugares belíssimos, onde o tempo parece que parou e as paisagens são fantásticas.
Ahhh, vc tem que vir aqui para passar um tempo! Comece a fazer sua programação, casa já tem pra ficar.
beijinhos cariocas
Foi minha professora, sim senhora. Nunca a esquecerei, pela sua interpretação "sui generis" de uma passagem de "Viagens na Minha Terra"...
O livro deve ser uma maravilha, é mesmo desses que eu gosto também. :)
Depois emprestas-me, ok?
Adorei a foto das ruínas.
bjs
Inside,
é bom viajar no livros, sem dúvida. Também espero que bons ventos me levem para bons tempos e já agora desejo o mesmo para ti :)
Beth,
eu lembro-me vagamente da série e ao ler o livro fiquei com muita vontade de conhecer o Rio Grande do Sul.
Qualquer dia eu apareço aí :))
Cláudia,
o livro até chegou aqui a casa por causa de ti!!
Podes levá-lo quando quiseres :)
Este era o nome do meu primeiro blog - ainda o tenho em arquivo!
Adoro esta história, Erico Veríssimo é o meu autor predileto no Brasil - amo "Olhai os Lírios do Campo", tem uma aura muito dostoievskiana...
Enfim, que legal que gostaste!
Quando eu era adolescente, gostava de pensar que era a Ana Terra, rs.
A série e a trilha sonora - composta por ninguém menos do que Tom Jobim - são lindas, lindas. Lembram-me noites frias de junho, saudades.
Beijocas!
Isabel,
Érico Veríssimo é um grande autor, e o Estado Do Rio Grande do Sul é muito bonito, e cheio de tradições.
Como curiosidade, você sabe que o filho dele também é escritor? Só que num estilo completamente diferente. Escreve sobre comédias.
Beijos.
Não há nada como um bom livro que nos arrebata e que nos enche. Este deve se um assim!
Também gosto de livros históricos mas cofesso que sobre o Brsil tenho lido poucos!:)
Isabel,
Érico Veríssimo marcou minha adolescência, é um dos meus autores favoritos e foi um autor que li sob forte influencia da minha mãe que tinha tudo e leu tudo dele. Meu pai também leu tudo e adorava.
Eu sempre fui louca por Ana Terra e acho que por isso o Continente é o meu favorito no Tempo e o Vento, mas li tudo, acho uma maravilha. Adoro o começo da trilogia, Ana Terra, o amor pelo índio é a coisa mais linda do mundo. Mas eu adoro mesmo é a história de Bibiana e Rodrigo que me marcou demais.
Eu detestei as séries na época, era um livro marcante demais para mim e quando vi a história de Ana Terra tão mal contada e Tarcísio Meira de Rodrigo eu queria cometer um crime... Mas também fizeram filmes, são bem mais antigos, anteriores as mini séries.
"Buenas e me espalho, nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho" (reconhece este abre? uso-o sempre, esta frase nunca deixou a minha mente, desde adolescente...)
Bj,
C.
Dani,
também tenho aqui Olhai os Lírios do Campo para ler, só o titulo já é cativante, não é? Acho lindo, até porque eu adoro os lírios do campo que existem muito no Alentejo.
Noites frias de Junho? De que zona do Brasil és? São Paulo? Ou mais para sul? Sou muito curiosa, hihihi
Liliana,
lê qualquer coisa dele, acho que irias gostar. Acreditas que nunca li Cem Anos de Solidão? Do Gabriel G M adoro Do Amor e Outros Demónios, acho maravilhoso :)
Heloísa
fiquei a conhecer esse estado do Brasil bem melhor com este livro. Sei que Luis Fernando Veríssimo também é escritor, mas nunca li nada dele. Você recomenda?
Noémia,
é verdade, eu achei este completamente arrebatador!
Cláudia,
é difícil escolher. São tantas as personagens fortes e intensas nesta história. Ana Terra é sem dúvida fascinante, e a sua neta Bibiana também. Rodrigo é daqueles personagens que noa agarra pelos colarinhos e nos sentimos quase como o padre, que lhe dizia "Vosmecê é impossível!", mas que no fundo o adorava. É impossível não ficar fascinada com Rodrigo Cambará.
Lembro-me bem da frase, adorei. Aliás são fascinantes também as cambiantes linguístas dos personagens nas várias fazes da história. Acho que dava para fazer uma tese sobre esse tema :)
O título, se não me engano, é retirado da Bíblia!
Sim, sou de São Paulo, da época em que ainda havia um inverno completo - hoje em dia, o inverno tem dias de verão, uma loucura...
Minha madrinha mora no Rio Grande do Sul, mas nunca fui até lá!
Beijinhos!
Oi, Izabel. Que bom vir aqui e ler sobre um autor brasileiro. Você faz mais por nós do que nós mesmos, visto que não ando lendo nenhum elogio a nossos autores por aqui...Li há muitos anos a trilogia e agora me deu vontade de reler, o que vou fazer já, já.
Amanhã vou postar sobre o "caso" da Maitê Proença. Relutei muito mas agora decidi fazê-lo, nem sei porque. Recomendo seu blog no post.
Sobre Luiz Fernando Veríssimo, filho do Erico, o estilo é totalmente outro, ele é de um humor fantástico, não é romancista.É um cronista do cotidiano, com um ótimo humor. Se você gosta de uma boa risada, de casos leves e breves, vai gostar dos livros dele.
Um abraço.
Lúcia,
não sou muito conhecedora de literatura brasileira, mas os poucos livros que li: "D. Casmurro" de Machado de Assis,
"Leite Derramado" de Chico Buarque e esta epopeia de Veríssimo achei maravilhosos e não resisti a recomendar no blog. Agora fiquei curiosa sobre esses livros bem-humorados do Luís Fernando. Estou a precisar de ler algo bem-humorado :)
Bjs
Oi!
Os gauchos sao as pessoas que nasceram no Rio Grande do Sul. Pois eu sou uma gaucha com muito orgulho e fiquei encantanda de ver seu post.
Tem uma outra serie que passou na Globo e tem em DVD, que se chama "A casa das 7 mulheres" da autora Letícia Wierzchowski. Tambem conta a historia do RS e foca muita as mulheres. A autora nao se compara ao Erico, mas o livro e otimo.
Bj
Carol,
Também passou aqui a série "A Casa das Sete Mulheres" e eu gostei bastante. O seu estado tem uma história muito interessante :)
Bjs
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